Eddie Redmayne admite sua ignorância sobre mudança de sexo

Para ator, o importante no filme era mostrar Einar se libertando

PUBLICIDADE

Por Jake Coyle
Atualização:

TORONTO  - Numa cena essencial no início do filme de Tom Hooper, A Garota Dinamarquesa, o pintor da Copenhague da década de 1920, Einar Wegener, interpretado por Eddie Redmayne, posa para o retrato que sua esposa Gerda (Alicia Vikander) está pintando de uma bailarina. Einar perde o fôlego ao acariciar as meias e os calçados femininos e sente que algo se moveu em seu íntimo.  Trata-se de um momento que indica uma transformação que está por vir: Einar vai, gradualmente se transformar numa mulher, por fim submetendo-se a uma das primeiras cirurgias de mudança de sexo de que se tem notícia. Einar torna-se Lili Elbe, uma celebrada pioneira trans.  “Eu não queria que isso fosse uma epifania”, diz Redmayne a respeito da cena. “Parece que ela tinha nascido e a sociedade e ela mesma a haviam encerrado neste exoesqueleto masculino. O importante para mim era que o filme mostrasse esse desvencilhamento.” Redmayne, que conquistou o Oscar de melhor ator por sua interpretação de Stephen Hawking em A Teoria de Tudo, provou-se ser um intérprete de técnica impecável e um especialista em metamorfose. Um ano depois de projetar a degeneração física de Hawking, sua conversão de Einar para Lili em A Garota Dinamarquesa fez novamente o ator britânico de 33 anos ser tido como forte candidato ao prêmio da Academia.  Trata-se do terceiro filme que reúne Hooper (O Discurso do Rei) e Redmayne, que teve um pequeno papel em Elizabeth - A Era de Ouro (2007), do mesmo diretor, no qual a rainha o sentencia à morte. “Lembro que, naquele momento, pensei que precisava encontrar um papel principal para Eddie”, conta Hooper. 

Foi durante as filmagens de Os Miseráveis, de 2012, no qual Redmayne interpreta o revolucionário Marius, que os dois começaram a tramar A Garota Dinamarquesa. “Sei que fui muito sortudo por interpretar duas pessoas formidáveis”, disse a respeito de Hawking e Elbe.  As avaliações de A Garota Dinamarquesa têm destacado a performance de Redmayne, que se casou com Hanna Bagshawe em dezembro e, dois dias depois de ganhar o Oscar, estava de volta ao estúdio para fazer A Garota Dinamarquesa. Alguns, porém, questionaram a escolha de um homem para interpretar uma mulher transgênero. O filme de Sean Baker, Tangerine, lançado no Brasil em 4 de fevereiro, tem atraído elogios para as atrizes transgênero Kitana Kiki Rodriguez e Mya Taylor. “Talvez haja algo em Eddie que chama para o feminino”, afirma Tom Hooper a respeito de Redmayne, que também interpreta Viola numa produção teatral de Noite de Reis. A Garota Dinamarquesa é um estranho no mundo cinematográfico. No início deste ano, a USC Annenberg School of Communication and Journalism estudou os 100 filmes de maior bilheteria em 2014 e não encontrou nenhum personagem transgênero.  “Há um sério problema não apenas em nossa indústria, mas no interior de muitas indústrias para homens e mulheres trans e a discriminação que enfrentam no trabalho”, comenta Redmayne. “Nos Estados Unidos, você pode ser demitido em 32 Estados por ser trans.” “Quando falei pela primeira vez do filme, ele foi considerado um trabalho difícil de financiar”, recorda Hooper. “Havia pessoas dizendo que eu não deveria fazer o filme. Mas agora ela o veem como um filme que obviamente deveria ter sido feito. Acho que é um indicativo de uma maravilhosa mudança que começou a acontecer na cultura, a de que histórias trans se tornaram mais aceitáveis.” Redmayne fez uma ampla pesquisa e reuniu-se com várias gerações de pessoas transgênero para entender melhor Lili. “Eu era inacreditavelmente ignorante na época. Foram vários encontros com pessoas da comunidade trans.”  Como interpretado por Redmayne, a gradual revelação de Lili é uma intrincada mistura de emoções - um despertar cada vez mais confiante no qual um arroubo crescente domina a apreensão. “Foi muito importante que nós pudéssemos sempre sentir, por meio da performance que Eddie faz de Lili, a promessa de felicidade que representa o compromisso com a jornada.” / TRADUÇÃO DE PRISCILA ARONE   

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.