‘É um salto de fé’, afirma a atriz Michelle Pfeiffer sobre seu papel em 'Mãe!'

A sua primeira reação ao roteiro foi a frase ‘Que diabo é isso?’, mas depois ela garantiu que a experiência foi eletrizante

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Por Jake Coyle
Atualização:

Quando Michelle Pfeiffer leu pela primeira vez o roteiro de Darren Aronofsky para Mãe!, ela teve uma reação inicial compreensível: “Que diabo é isso?”. O filme é tudo menos normal. Nem é o tipo de projeto que se esperaria que uma atriz afastada há tanto tempo das telas, como Michelle, fosse encarar como primeira grande performance em cinco anos. Intencionalmente embalado em mistério, o filme é uma estranha e selvagem odisseia de um diretor especialista em conjurar o mundo dos sonhos obscuros e surrealistas, mantendo os espectadores – e muitas vezes o próprio elenco – numa atmosfera de paranoia.

Michelle Pfeiffer na cerimônia do Emmy 2017, emLos Angeles. Foto: Jordan Strauss/Invision/AP

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“Não se sabe, de verdade, como falar dele”, disse também Michelle, agitando as mãos, numa entrevista recente. Mas um dos muitos mistérios a se considerar no thriller alegórico na verdade é muito simples: por que não se vê Michelle Pfeiffer com mais frequência?

A boa notícia é que Mãe! é uma espécie de renascimento para a atriz de 59 anos, cuja beleza e inteligência continuam pouco menos que devastadoras. “Estou realmente empolgada com a volta, principalmente tendo trabalhado com um diretor e atores tão talentosos, que tanto admiro”, contou ela.

Além de Mãe!, Michelle trabalha com Kenneth Branagh em outro filme de mistério, mais clássico, a ser lançado em breve: Assassinato no Expresso do Oriente. Ela também está na sequência de Homem-Formiga e, no início deste ano, participou do Sundance Festival com Where is Kira?, no qual faz uma mãe que luta para sobreviver no Brooklyn. Ela também recebeu uma indicação para o Emmy pelo papel de Ruth Madoff, fumante e chegada no copo, no filme de Barry Levinson para a HBO, The Wizard of Lies.

Antes de mergulhar nesse turbilhão de atividades, Michelle vinha dando um tempo na carreira para se dedicar à família. Ela e o marido, o produtor de TV David E. Kelley, que vive no norte da Califórnia, têm dois filhos. Agora, com o ninho vazio, ela quis voltar ao trabalho regular. “Não sabia se ela toparia, mas começamos a conversar e foi surpreendente”, revelou o diretor.

Aronofsky (Cisne Negro, Réquiem para Um Sonho), um fã antigo de Michelle, ficou impressionado com o ainda afiado talento da atriz. “Tive vontade de aplaudi-la em vários momentos da filmagem, pois ela faz coisas difíceis de fazer.”

Jennifer Lawrence é a estrela do filme no papel da doce e sensível mulher do poeta vivido por Javier Bardem. Eles levam uma vida lindamente natural numa casa no campo, mas são perturbados pela chegada de um casal de visitantes (Ed Harris e Michelle Pfeiffer). O filme ganha intensidade com essa sensação de invasão. Na concepção de Aronofsky, trata-se de uma espécie de alegoria de uma ocupação desenfreada da Mãe Terra.

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“Às vezes, tenho sonhos desse tipo”, confessou ainda Michelle. “Estou na casa de alguém e preciso sair, mas não consigo. Sinto que um desastre está se aproximando e ninguém me ouve. É um pesadelo do qual não dá para acordar.”

Com o decisivo papel que lhe valeu uma indicação para o Oscar em Susie e os Baker Boys, de 1989, Michelle tornou-se uma das principais atrizes de Hollywood, com filmes como Mentes Perigosas, Batman – O Retorno, A Época da Inocência, Revelação. Isso intimida um pouco sua jovem parceira em Mãe!. “Levei dois dias para assimilar sua beleza e dizer ‘alô’ a ela”, contou Jennifer Lawrence a repórteres no Festival Internacional de Cinema de Toronto. “Mas ela é absolutamente normal. Uma mãe. Uma mulher muito perspicaz.”

É também uma atriz suficientemente corajosa para sair da zona de conforto e filmar Mãe!. Michelle considera o filme “um verdadeiro salto de fé”, pois entrou nele partindo apenas de uma ideia inicial, trabalhando com um diretor que às vezes deixa o elenco no escuro.

“Convivi com coisas com as quais nunca tinha convivido, como a filmagem dos ensaios”, comentou Michelle. “E, para falar a verdade, foi eletrizante. Após tantos filmes, feitos durante tantos anos, vivi uma experiência verdadeiramente nova e única.”

Tradução de Roberto Muniz

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