Documentário revela páginas escondidas de Rita Cadillac

'A Lady do Povo' traz depoimentos de Dráuzio Varella, Rogéria, e Leleco, filho do Chacrinha

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Por Fernanda Ezabella e da Reuters
Atualização:

Da Serra Pelada ao Carandiru, Rita Cadillac hipnotizou multidões de homens pelo país com suas danças eróticas e alguma música, em uma trajetória que agora é narrada em um documentário que revela páginas escondidas de sua vida.   Veja também: Especial 31.ª Mostra    Rita Cadillac - A Lady do Povo foi dirigido por Toni Venturi, diretor de Latitude Zero e Cabra Cega. O filme traz depoimentos de pessoas bem diferentes entre si, como o médico Dráuzio Varella, a transformista Rogéria, e Leleco, filho do apresentador Chacrinha, onde tudo começou.   "Deu para chorar, deu para rir (durante as filmagens do documentário)", disse Rita à Reuters na quinta-feira, 25, na estréia do filme na 31.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.   "O mais difícil foi contar do meu passado. Sempre disse que minha vida era um livro de páginas abertas, mas mal sabiam que eu tinha colado algumas páginas, umas nas outras."   Há imagens antigas dos 10 anos em que Rita trabalhou como chacrete, além de cenas de nudez no filme Asa Branca (1980), ao lado de Edson Celulari, então com pouco mais de 20 anos.   Também foram resgatados shows que ela fez para os garimpeiros de Serra Pelada e as apresentações já conhecidas na Casa de Detenção do Carandiru, que ela freqüentou de 1985 até a implosão do local, em 2002.   "Foi uma tristeza muito grande porque estava sendo implodido uma parte da minha vida, do meu passado. Também senti um alívio, porque está saindo um barril de pólvora. Mas eu fiquei com saudade", disse Rita do lado de fora do cinema.   A vedete, que era madrinha dos presidiários, chegou a freqüentar o Carandiru diariamente, além de realizar shows de Natal e eventos como formaturas de presos e jogos de futebol.   Personagem de um capítulo do livro Estação Carandiru, de Varella, ela também ajudou o médico em projetos educativos, como concursos de cartazes sobre Aids ou sobre uso de crack.   "Ela fazia shows maravilhosos, deixava aquela massa de homens todos apaixonados", disse Varella, ao comentar as performances de Rita, que sempre tinham como destaque sua famosa nádegas.   "Era um respeito total. Ela fazendo aquelas danças eróticas, e ainda assim impunha um respeito muito grande. É uma grande artista."   Celebridade maldita   Para Venturi, de todo o universo do Carandiru já registrado em livros, filmes e documentários, faltava ainda dar atenção a essa personagem importante da história.   "As pessoas têm muito preconceito contra ela", disse Venturi. "Ela é uma celebridade, sim, mas uma celebridade maldita, que sempre lidou com essa coisa do sexo, que todo mundo quer, mas todo mundo repele."   "O que mais me surpreendeu foi o caráter dela. É uma mulher digna, uma guerreira, corajosa, simples, humana, igual a todos nós."   O documentário intercala momentos de sua carreira artística com cenas do cotidiano, como Rita indo à feira, cozinhando para seu atual marido ou vestindo uma meia-calça para um show.   Na frente das câmeras de Venturi, ela se emociona ao contar as dificuldades que passou após a morte da avó, que a criou sozinha, e da separação do marido, no mesmo período, no Rio de Janeiro. Sem dinheiro e com um filho para cuidar, Rita, que ainda não era Cadillac, chegou a se prostituir.   Também contou como se sentiu "baixa e ruim" ao estrear no cinema pornô - aliás, com muito sucesso -, em 2000, nas produções Brasileirinhas. "Fiz exclusivamente por dinheiro", diz no filme.   Hoje em dia, aos 53 anos, Rita Cadillac ensaia uma carreira política. Pretende concorrer no ano que vem como candidata a vereadora na Praia Grande, litoral sul de São Paulo, onde quer defender os direitos das mulheres.   O filme acaba com o que parece ser o último desejo de Rita: "quero ser enterrada de bruços para que o povo me reconheça".

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