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Documentário mostra um Jean-Claude Bernardet em reinvenção permanente

'A Destruição de Bernardet', de Claudia Priscila e Pedro Marques, passou fora de concurso no Festival de Brasília

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Jean-Claude Bernardet é figura muito conhecida nos meios universitário e cinematográfico. Professor da USP, ensaísta brilhante, e agora ator, exerce há décadas influência decisiva sobre o cinema que se pratica no País. Virou uma instituição, que ele, aos 80 ano, procura desmistificar. O documentário A Destruição de Bernardet, de Claudia Priscila e Pedro Marques, que passou fora de concurso em Brasília, procura retratar essa característica de Bernardet, a de ser uma pessoa em reinvenção permanente. Uma metamorfose ambulante.

'Gostaria de me deslocar como personagem desse filme, porque notei que ele tem uma receptividade interessante entre as pessoas mais velhas' Foto: Junior Arago/Divulgação

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No filme, vemos Bernardet em cenas de hospitais em um dos seus frequentes tratamentos de saúde. Vamos vê-lo também excursionando pela mata e devorando uma borboleta. Em cena, em alguns dos seus filmes recentes, como FilmeFobia, Periscópio, Pingo D’Água e Fome. E também praticando uma dura autoentrevista, na qual o entrevistador Bernardet encosta contra a parede o entrevistado Bernardet.

Enfim, é um filme em parte de autoficção, no qual o personagem faz uma revisita ficcional à sua vida bem real. Um jogo de máscaras que ele próprio admitiu na entrevista ser ambivalente e inesgotável. Não se capta a “essência” de uma pessoa, como acreditam de maneira ingênua os filmes ditos biográficos. Ainda mais quando essa pessoa se propõe a um movimento constante de superação de limites e transformações de pensamentos em atividades.

Mas o próprio Bernardet fornece um ponto de vista alternativo e complementar. “Gostaria de me deslocar como personagem desse filme, porque notei que ele tem uma receptividade interessante entre as pessoas mais velhas.” Desse modo, A Destruição de Bernardet encontra um leito interessante, que é o da reinvenção da pessoa na terceira idade. “Não acho que se deva, na velhice, fazer com menos qualidade aquilo que se fez na juventude”, diz Bernardet. “É preciso fazer outras coisas.”

Diz ele que discutia muito essa questão da necessária reciclagem na terceira idade com seu irmão Jean-Pierre que, demitido de uma multinacional, passou a dedicar-se às artes. Vida é movimento. E, movendo-se, Jean-Claude sempre surpreende, mesmo os que pensam que o conhecem.

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