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Destruição e reconstrução da nave Enterprise é mote do novo ‘Star Trek – Sem Fronteiras’

Filme chega aos cinemas no próximo dia 1º de setembro, quinta-feira

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Embora tenha sido o homem responsável pelo ‘reboot’ (reinvenção) da série Star Trek, JJ Abrams nunca escondeu que era “um Star Wars guy” e, por isso, não vacilou quando foi chamado a dirigir O Despertar da Força. Foi o que abriu espaço para que Justin Lin, de Velozes e Furiosos 6, assumisse a direção do novo Star Trek, que estreia na quinta, 1.º, nos cinemas brasileiros. À revista Total Film, Lin contou uma de suas experiências viscerais. Garoto de Taiwan, havia emigrado com a família para os EUA. Não falavam a língua, mas sentaram-se, o pai, os tios e ele, para verem aquele show bizarro. Uma nave, uma tal Enterprise, que aterrissava num planeta distante, habitado por gente esquisita. As imagens ficaram no seu imaginário e voltaram muito fortes, décadas mais tarde.

Star Trek Sem Fronteiras estreia nos cinemas brasileiros uma semana antes do lendário show que, no dia 8 (de setembro), estará completando 50 anos. Meio século de Jornada nas Estrelas. Foi assim que o programa e, mais tarde, os filmes começaram a ser lançados no Brasil, antes que virassem Star Trek (e como Star Wars também era Guerra nas Estrelas). A volta do título original tem a ver com as marcas, que são muito fortes. Sem fronteiras traz a nova roupagem dos velhos personagens – Kirk, Spock. O tempo – sua relatividade – tem estado presente na série toda, desde o início. As diferentes versões das pessoas. O que sou, serei, o que fui. Sem Fronteiras é sobre a destruição e a reconstrução da Enterprise. É sobre um admirável mundo novo, uma estação que parece um planeta, criada pelo homem e que o vilão Krall vai tentar destruir.

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Espaço – a fronteira final... O monólogo recitado pelo Capitão James T. Kirk iniciava invariavelmente todos os episódios. E, de setembro de 1966 a junho de 1969, a série criada por Gene Roddenberry foi exibida regularmente pela rede NBC. No final da primeira temporada, quase foi suspensa, porque os índices de audiência eram considerados decepcionantes. Virou cult. Criou gerações de seguidores, os trekkies (mas eles preferem ser chamados de trekkers). E em 1972 houve a primeira convenção nos EUA. Gente que não acabava mais. Vale a pena fazer um exercício de ficção científica, viajar no tempo. Os anos 1960 assistiram ao recrudescimento da Guerra Fria entre EUA e URSS. O mundo vivia o auge do perigo atômico. Cada superpotência possuía arsenal suficiente para destruir muitas vezes – não só o inimigo, mas a Terra. Começava a surgir uma consciência ecológica. A Terra é finita, o homem vai acabar por destruí-la. A conquista do espaço, transformada em disputa entre norte-americanos e soviéticos, carregava também uma questão essencial. Um dia o homem terá de migrar para novos planetas. De certa forma, a TV foi pioneira, com Star Trek, ou Jornada nas Estrelas, na abordagem dessa discussão. Logo, incorporou-se o cinema – clássicos como 2001, Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, e O Planeta dos Macacos, de Franklin J. Schaffner.

No século 23, em que se passava o Star Trek original, o desenvolvimento tecnológico e científico criara maravilhas – a Enterprise era capaz de viajar à velocidade da luz, o homem teletransportava-se. Realmente, o espaço, a fronteira final – sem fronteiras. O capitão Kirk, agora Chris Pine, o primeiro oficial Spock, meio humano, meio volcano, Zachary Quinto. A velha rivalidade. Um impulsivo, agindo antes de pensar; o outro, reflexivo, pensando muito, antes de agir. Spock, mais até na nova formação, sempre explorou a noção sobre como evoluir de forma responsável e respeitosa. Unidos, leais, apesar das eventuais diferenças, como num determinado momento em que se interessaram pela mesma mulher, a Uhura, de Zoe Saldana. Como disse Karl Urban, o Dr. McCoy, à Total Film, o que mais mudou desde o Star Trek de JJ Abrams, em 2009, é que alguns do grupo se casaram, descasaram, tiveram filhos. Só Pine continua solteiro, ‘having a fantastic time’, divertindo-se à larga, tendo um tempo fantástico.

O novo filme começa com a descoberta de um artefato aparentemente inofensivo, mas logo Krall e seus asseclas estão correndo atrás, atacando a Enterprise. O tal artefato potencializa a força de Krall, Idris Elba. É um vilão consistente, embora não tão emblemático quanto o sinistro Ricardo Montalbán de Star Trek – A Ira de Khan, segundo volume da série. Pode ser questão de gosto, mas há um culto a Khan. O melhor (pior?) vilão. O melhor filme (de Nicholas Meyer). Há agora uma guerreira alienígena que vai ajudar a combater Krall em Sem Fronteiras, interpretada pela argelina Sofia Boutella, um assombro. E a novidade – o roteiro, com muito humor, é coassinado pelo ator Simon Pegg, de outra série, Missão Impossível, e que em Star Trek faz Montgomery Scott. A série muda para se adaptar aos novos tempos. Enquanto a Disney ainda promete sua primeira princesa gay, um dos rapazes da tripulação não apenas tem um companheiro como ambos têm uma filha. São pais responsáveis. Impossível imaginar se Gene Roddenberry, o criador de tudo, havia previsto que isso pudesse ocorrer. Pode ser o olhar generoso de Justin Lin. Velozes e Furiosos 6, ótimo como ação, já abordava os conflitos familiares. Talvez não seja disparatado pensar que, aos 50 anos, Star Trek tem potencial para mais 50.

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