Damián Szifron abre a Mostra e celebra o êxito de 'Relatos Selvagens'

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Um megassucesso na Argentina faz 1 milhão de espectadores - o mercado deles é mais restrito que o brasileiro. O que dizer então de um filme que ultrapassa 3 milhões de pagantes? Vira um fenômeno. É o que está ocorrendo com Relatos Selvagens. O longa de Damián Szifron também está indo muito bem no Uruguai, na Colômbia. A expectativa é em relação ao Brasil. Distribuído pela Warner, Relatos Selvagens terá megalançamento, em centenas de salas, na quinta-feira da próxima semana, dia 23. O filme abriu a 38.ª Mostra de Cinema São Paulo, numa sessão para convidados, no auditório Ibirapuera. Nesta quinta-feira, 16, no início da Mostra para o público, Relatos Selvagens terá nova exibição.

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Szifron está rindo à toa, e ainda tenta entender o por quê da adesão do público. Em companhia da atriz Erica Rivas, ele veio prestigiar a abertura da Mostra. Encontrou-se com o repórter do Estado. “Olhe esse cartaz (o do filme). Consegui reunir um elenco excepcional. São grandes atores e astros do cinema de fala espanhola. Estão acostumados a brilhar nos próprios filmes. Aqui compartilham a cena. E o filme tem violência, expressa na telas um mal-estar que muitos argentinos estão sentindo. O filme espelha a crise, e essa crise não é só do meu país. Não precisei nem carregar nas tintas. Aliás, não quis. Relatos Selvagens é um filme não um tratado sociológico.”

Um filme que Szifron demorou muito tempo para fazer. Há sete anos, ele não estreava nada novo. Na TV e no cinema, fez filmes de prestígio. Depois, lançou-se no que seria um projeto grande. “Queria fazer uma ficção científica. Ela foi crescendo. Virou um díptico, uma trilogia e, de repente, um quarto filme me parecia necessário para a saga que queria contar. Todo mundo se assustava com o tamanho do projeto. Enquanto isso eu ia escrevendo histórias. Sem me policiar. Histórias violentas, selvagens, de gente que não consegue se controlar. Terminei reunindo seis dessas histórias no presente filme. Consegui apoio da El Deseo, empresa de Pedro e Agustín Almodóvar. Relatos Selvagens foi a Cannes. O resto está sendo histórico na Argentina. A marca de 3 milhões de espectadores é reservada para os grandes blockbusters.”

Diretor. Longa trata de pessoas que perdem o controle da própria vida e como reagem Foto: Rafael Arbex/Estadão

Gente que perde o controle da própria vida - que implode, e explode. “Mudei um pouco a ordem dos episódios, mudei o episódio do casamento, da noiva que arruína a própria festa. Mas mudei o final do próprio conto. Esse episódio, o de Ricardo Darín e o da disputa na carretera (estrada) provocam verdadeiras catarses do público na Argentina. Sabia que isso poderia ocorrer. Afinal, Ricardo (Darín) e Erica são figuras carismáticas, muito conhecidas. Carregam o público, que se sente liberado com as reações deles em cena.” O próprio Szifron tem alguma história preferida entre as seis? “Pode parecer chavão, mas não. Estaria tendo de escolher entre minhas crias, meus filhos.”

Um incidente num avião, um técnico em explosivos que decreta guerra à burocracia, dois motoristas que se matam num disputa na estrada, a noiva humilhada que dá o troco e destrói a própria festa de casamento, a garçonete e a cozinheira que executam sua vingança numa lanchonete e o conto do empresário envolvido numa negociação ilícita. Em Cannes, Pedro Almodóvar, na coletiva de Relatos Selvagens, disse que descobriu Damián Szifron assistindo a Tiempo de Valientes e que comentou para o irmão, Agustín, que era um cara para se ficar de olho. Quando o projeto lhe veio às mãos, ele embarcou de imediato. “O que me atraiu foi o lado ‘salvage’, selvagem. Esse tipo de humor negro, radical, me encanta e encanta o público.” E Almodóvar antecipou o que ia ocorrer. “Um filme como esse não precisa de prêmio para conquistar o mercado.”

Na disputa pela Palma de Ouro, Relatos não levou nada do júri oficial. Mas bastou a vitrine de Cannes para que o filme iniciasse sua bem sucedida carreira nacional e internacional. Um filme sobre gente que perde o controle, mas e o controle do diretor? Como foi encenar a violência, e o humor? “Não quero usar a palavra controle porque pode induzir a me acharem autoritário”, diz o diretor. “Mas sem dúvida que o timing é muito importante quando se encena o humor. Sei disso porque Tiempo de Valientes já era uma comédia. Tempo demais e de menos destroem piadas verbais e visuais. Felizmente, tinha esse elenco extraordinário (Ricardo Darín, Erica Rivas, Dario Sanguinetti, Leonardo Sbaraglia etc). Com alguns já havia trabalhado, com outros, nunca. Propunha sempre dois personagens, quando falava do roteiro, mas na maioria das vezes tive o ator que queria, no papel que imaginava. Foram todos bárbaros, maravilhosos. Fizeram tudo o que exigia e, quando improvisavam, era para acrescentar, e para que ficasse melhor ainda.” 

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