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Criador do musical ‘Nine’ aprova a versão brasileira

Italiano Mario Fratti a classifica como uma das melhores montagens que viu do espetáculo

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Por Ubiratan Brasil
Atualização:

Um espectador especial acompanhou com indisfarçável alegria as apresentações de Nine – Um Musical Felliniano, neste fim de semana, em São Paulo. “Sem parecer bajulador, essa é uma das melhores montagens que vi deste espetáculo”, garantiu o italiano Mario Fratti, autor da peça que inspirou o musical. “Vi 11 produções de Nine em todo o mundo e esta é a melhor dos últimos anos.”

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Lançado na Broadway em 1982, Nine é, desde essa época, um grande sucesso em todo o mundo e sua inspiração é o filme Fellini 8 1/2, obra-prima do cineasta italiano, estreado em 1963. “O musical só não foi montado ainda na Itália porque os críticos atacariam o retrato que criei do grande Fellini”, diz Fratti em entrevista a Claudio Botelho especialmente para o Estado.

Fratti conta que, jornalista nos anos 1960, acompanhou diversos sets dos longas de Fellini. “Percebi como era seu comportamento com as mulheres e escrevi a peça Six Passionate Women (Seis Mulheres Apaixonadas), baseado em sua vida e que logo inspiraria Nine.”

ARQUIVO 19/06/2015 CADERNO2 MARIO FRATTI, UM DOS CRIADORES DO MUSICAL NINE, AO LADO DO ELENCO BRASILEIRO. FOTO BRUNA RICARDO/DIVULGAÇÃO Foto:

Segundo ele. Fellini não participou da primeira montagem do musical, mas acompanhou a estreia na Broadway. Fratti, no entanto, não esconde sua insatisfação com a versão para o cinema de Nine, dirigida por Rob Marshall em 2009. “A produção não aceitou nenhuma das nossas colaborações e me senti traído com essa versão incompleta: grandes cenas e até o final foram ignorados.”

Fratti prefere falar da montagem brasileira, dirigida por Charles Möeller e Claudio Botelho. Encantou-se com Beatriz Segall (“Nota-se que é uma grande dama do teatro”) e ficou satisfeito com o trabalho do conterrâneo Nicola Lama, que vive o cineasta que, durante crise criativa, é rodeado pelas imagens das mulheres que moldaram sua vida.

Aos 87 anos (soma mais um em julho), Fratti exibe uma invejável disposição. Afinal, ele não apenas acompanhou a montagem brasileira do musical como arrumou tempo para conhecer pessoalmente uma das dramaturgas, que julga estar entre as melhores do teatro brasileiro: Leilah Assunção. “Tenho um grupo de estudos em Nova York, onde vivo desde 1963, e, quando falamos de teatro brasileiro, pensamos sempre no grande Nelson Rodrigues e também em Leilah”, afirmou ao Estado, que presenciou o encontro dos dois artistas, sábado à tarde, no Teatro Itália, onde estreia a nova peça de Leilah, Dias de Felicidade, na sexta, 26.

É uma surpresa agradabilíssima, pois eu não o conhecia e ele não só elogiou meu trabalho como está disposto a produzir em Nova York um de meus monólogos”, disse a dramaturga que, no exterior, é mais conhecida na Alemanha. Fratti lamenta tal escassa repercussão. “O teatro de Leilah fala das relações contemporâneas como poucos autores conseguem atualmente”, informou ele, que assistiu a uma apresentação para amigos de Dias de Felicidade – embora não fale português, entende espanhol e garantiu ter captado a essência da peça, que trata do relacionamento de um casal divorciado, modificado quando ela sofre um acidente de carro.

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A relação do italiano com o Brasil é antiga – em 1975, acompanhou a montagem de sua peça Golpe Sujo, estrelada por Maria Della Costa e Jardel Filho, com direção de José Renato, que ficou dois anos em cartaz. “Uma dupla maravilhosa, que trouxe um sabor latino ao meu texto”, relembra.

Entrevista com Mario Fratti, dramaturgo italiano (por Claudio Botelho, Especial para o Estado)

‘Atores latinos são mais simpáticos’

O senhor acredita na existência de uma forma tipicamente latina de atuar?

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A qualidade latina dos atores os torna muito humanos, muito simpáticos. Os anglo-saxões são muito profissionais, mas percebo que lhes falta, por vezes, o espírito e a alma dos atores latinos.

Suas raízes políticas são socialistas e muitas de suas peças apresentam uma abordagem esquerdista, se é que podemos dizer isso. Como um autor inclinado à esquerda lida com um mercado tão capitalista como a Broadway?

Minha origem esquerdista vem da minha família, pois meu pai foi um sindicalista. Fui aceito na Broadway porque lá não há censura e eles estão mais interessados em jogos financeiros. Continuo escrevendo peças esquerdistas porque são bem-vindas em todo o mundo.

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O senhor escreveu cerca de 70 peças, produzidas em várias partes do mundo. Nine é o único musical que o senhor assina como coautor. Mesmo assim, é possível acreditar que o senhor é fã desse gênero?

Prefiro o drama. Percebi que minha peça Six Passionate Women tinha grande potencial para se tornar um musical. E aí nasceu Nine. 

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