Com filmes de Bob Dylan e Jimi Hendrix, Murray Lerner é homenageado no In-Edit 2015

Diretor de documentários terá cinco longas exibidos em festival

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Por Pedro Antunes
Atualização:

Nova-iorquino desde os seis meses, o diretor Murray Lerner esconde a idade. “Você vai ter de perguntar para minha mãe”, brinca ele, em papo telefônico, uma semana antes de receber homenagem da nova edição do festival In-Edit, cujo início está marcado para amanhã, 1.º, com uma sessão para convidados de Paco de Lucía: La Búsqueda, documentário sobre o músico espanhol realizado pelo filho e diretor Curro Sánchez. Lerner, contudo, é a grande estrela da sétima edição do festival, a partir da quinta-feira, quando a programação estará aberta ao público. 

São nada menos do que cinco filmes do documentarista que se tornou uma figura histórica da música mundial, ao registrar momentos-chave como quando o então ídolo do folk Bob Dylan surgiu no festival Newport com uma guitarra elétrica ou quando Jimi Hendrix fez sua última performance em solo britânico, duas semanas antes de morrer.  A lista completa inclui From Mao to Mozart: Isaac Stern in China, com o qual ganhou o Oscar de melhor documentário em 1981, Festival!, The Other Side of the Mirror: Bob Dylan at the Newport Folk Festival, Listening to You: The Who at the Isle of Wight 1970 e Blue Wild Angel: Jimi Hendrix Live at the Isle of Wight 1970. 

 

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“Amava música folk quando era jovem”, conta Lerner. Por isso, explica o diretor, a aproximação com o Newport Folk Festival foi natural. “Me chamaram para registrar algumas cenas de arquivo do Newport. Fiquei espantado ao ver aquele movimento. A ideia de festival de música estava crescendo, a música encontrava um lugar muito especial para aquelas pessoas, como forma de expressão. Foi quando eu pensei: ‘Quero fazer um filme sobre isso’.”

Nas edições de 1963, 1964 e 1965, Lerner acompanhou toda a transformação ocorrida nos Estados Unidos naquela turbulenta década. Dessa experiência, criou Festival!, lançado em 1967, com um registro de performances de artistas como Johnny Cash, Joan Baez, Pete Seeger, Peter, Paul & Mary e Howlin’ Wolf. O filme, que poderá ser assistido no festival de cinema especializado em documentários musicais, chegou a ser indicado para o Oscar de melhor documentário, mas não ganhou. 

A juventude encontrava no folk uma forma de expressar suas preocupações com o mundo. Um daqueles artistas, Bob Dylan, era a estrela máxima. Depois de se apresentar por dois anos seguidos, em 1965, Dylan revirou o mundo da contracultura de cabeça para baixo ao se apresentar com uma guitarra elétrica. Vaias teriam interrompido a apresentação do músico, em um dos momentos mais polêmicos do folk. The Other Side of the Mirror: Bob Dylan at the Newport Folk Festival, também na programação do In-Edit, registra a evolução de Dylan ao longo desse período de transformação e amadurecimento como artista. 

“Algumas pessoas ficaram decepcionadas com o fato de Dylan ter decidido por abraçar a eletricidade e usar uma guitarra”, lembra Lerner. “Eu fiquei feliz. Realmente adorei, é claro. Foi uma experiência extraordinária poder ter registrado essa mudança.” Lerner continua: “Mas eu quero dizer mais uma coisa sobre isso. A música elétrica não é uma alteração somente no volume. Ela entra no seu cérebro de forma diferente. Não sei o motivo, mas a eletricidade deve fazer parte do nosso corpo.” 

Assim como acompanhou as transformações de Dylan, Lerner esteve próximo de The Who, Hendrix e do violinista Isaac Stern, em sua visita à China comunista, no fim da década de 70. Momentos carregados de relevância na história da música. 

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“A música é um elemento importante nos meus filmes, mas não a parte principal. Não ligo para cronologia do show em si. Quando estou fazendo um filme, o que me interessa é tentar passar a minha impressão sobre aquela performance que assistimos ali”, explica o diretor. “É como se eu fosse da banda. E a câmera é meu instrumento.” 

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