Cine Ceará reverencia produção argentina

Diretor Miguel Sato selecionou 28 obras para retrospectiva da filmografia recente do seu país

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

FORTALEZA - Uma das grandes atrações do Cine Ceará é o Foco Argentina, retrospectiva da filmografia recente organizada pelo diretor Miguel Mato – que já concorreu aqui há três anos com Homo Viator, sobre o escritor Haroldo Conti, desaparecido durante a ditadura militar argentina. 

Mato conta que, diante da tarefa proposta pelo Cine Ceará, decidiu-se por um recorte contemporâneo. “Era impossível integrar numa retrospectiva uma cinematografia rica, de mais de 100 anos, que hoje produz 140 longas por ano”, comentou. 

'Ninho Vazio'. De Daniel Burman, homenageado no festival Foto: Div

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Miguel Mato selecionou 28 obras: 17 longas e 11 curtas. Duas são do autor homenageado, Daniel Burman, que aqui estará com Ninho Vazio e Abraço Partido

Os outros filmes procuram retratar a sociedade argentina, hoje, tal como é vista pelos jovens cineastas. “Este é o conceito, abarcar a diversidade produzida por 31 anos contínuos de democracia”, diz Mato, que assim escolheu títulos como O Crítico, Crônica de Uma Fuga, O Último Elvis, entre outros. A mostra se divide em focos temáticos – cinema de terror, animação e LGTB. “Espero que esses filmes deem um relato da Argentina hoje.”

Sobre a ausência de alguns dos autores mais premiados do novo cinema argentino como Lucrecia Martel (O Pântano e La Niña Santa) e Lisandro Alonso (Os Mortos e Jauja), Mato afirmou. “Não podia contemplar todas as vertentes do novo cinema argentino numa mostra relativamente pequena. Então, tive de fazer escolhas que refletissem a diversidade desse cinema e não privilegiar apenas aquela que faz mais sucesso em festivais e no exterior.” 

Acontece que essa vertente, que alguns críticos chamam de “contemplativa” é a que maior trânsito internacional tem, graças ao prestígio obtido em festivais. Mato entende que um certo cinema argentino preocupa-se demais com a forma, deixando o conteúdo em segundo plano. “São ótimos para ganhar prêmios, mas também para afastar o público. Minha geração entende o cinema como forma de comunicação, o que equivale a dizer que leva em conta o público.” 

Ele diz ter razão para se preocupar. Apesar de produzir muito e da repercussão no exterior com seus autores jovens, o cinema argentino ocupa apenas 12% do seu mercado interno. Para efeito de comparação, ano passado, o Brasil ocupou 18% do mercado cinematográfico com suas produções (este ano, a porcentagem deve cair). 

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Como exemplo de filme que contempla inovação com diálogo com o público, ele cita Pizza, Birra y Faso, de Adrián Caetano, que venceu o Festival de Gramado anos atrás. 

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