CCBB faz retrospectiva do diretor japonês Takashi Miike

Um dos diretores mais cultuados no Japão conversará com o público brasileiro pela internet

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Por Luiz Carlos Merten - O Estado de S. Paulo
Atualização:

SÃO PAULO - Foi um dos mais belos filmes exibidos em Cannes este ano, mas o júri presidido por Robert De Niro preferiu ignorar Ichimei. O longa de Takashi Miike, de qualquer maneira, fez história no maior festival do mundo. Com o título em inglês de Hara-kiri, Death of a Samurai, foi o primeiro filme em 3D a integrar a competição. Curiosamente, baseia-se na história de Yasuhiko Takiguchi que já havia inspirado o homônimo Hara-Kiri de 1963 e o admirável longa de Masaki Koyashi, em maravilhoso preto e branco, recebeu o grande premio do juri naquele ano.

 

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No seculo 17, conhecido como período Edo no Japão, houve a derrocada do sistema de samurais. Um jovem samurai desempregado pede licença para cometer o suicídio ritual no pátio de um palácio. Na verdade, ele espera despertar a compaixão do senhor feudal, mas é forçado pelo chefe da guarda a se matar. Como vendeu a espada, tem de abrir o ventre penosamente, usando uma espada de bambu. Tempos depois, aparece no mesmo jardim outro homem pedindo para fazer haraquiri. Veio para se vingar. E começa a história, em flash-backs.

 

Takashi Miike eh um dos autores mais cultuados do Japão na atualidade. Pratica um cinema violento, de gênero. Gângsteres, samurais. Os novos críticos o adoram. As entrevistas de Miike em Cannes viraram minicoletivas. Os astros japoneses do filme - Eita e Ibizo Ichikawa, ambos muito populares na TV - o observavam com respeitosa admiração, a distância. Em Veneza, no ano passado, o diretor mostrou 13 Assassinos, que se inspira em Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa. Em Cannes, em maio, Hara-kiri, que bebe na fonte de Kobayashi. Por que a historia de vingança? "Na verdade, a história não é bem sobre vingança. Hanshiro (é o nome do personagem) não quer matar. Ele luta para mostrar que eh o melhor. O que pretende eh questionar o código de honra do senhor feudal e dar uma lição a seu clã sobre o que é a verdadeira filosofia de um samurai", explicou o diretor.

 

Ele explicou por que usou o formato 3D. "Em geral, o 3D é utilizado para aventuras e tramas de ficção cientifica. Embora narrando uma história com ação, a ênfase aqui é no dramas. Queria mostrar que o formato se adapta a historias mais dramáticas e sombrias. "Mas ele admite que as cenas de lutas ficam muito mais complicadas em 3D. Só que não foi por isso que as reduziu. O desafio teria sido estimulante, mas desta vez eu queria que a historia fosse mais poética." Um filme de samurais filtrado pela tradição do melodrama de Mikio Naruse? "Sou muito identificado com a violência. Ninguém espera de mim um melodrama, mas, sim, eu queria falar de sentimentos." Depois de Kurosawa e Kobayashi, o que mais Miike pretende refilmar? Outro Kobayashi, Rebelião? "Oh, não ousaria. Rebelião é grande demais". Ichimei/Hara-kiri passa neste sábado, dia 27, na retrospectiva que o Centro Cultural Banco do Brasil dedica a Takashi Miike. Apos a sessão, o cineasta conversa com o público paulistano, via telão, do Japão.

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