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Brigitte Bardot desabafa: odeia a humanidade

Ex-símbolo sexual, ela lança um polêmico livro em que destila seu "ódio à espécie humana", passando por "invasores muçulmanos", "desempregados profissionais", mendigos, homossexuais e professores

Por Agencia Estado
Atualização:

Quando ela dançou seminua em E Deus Criou a Mulher, filme de seu marido, na época, Roger Vadim, tornou-se o sonho do mundo. A França era, então, o general De Gaulle, Tintin e Brigitte Bardot. Esses foram os anos cintilantes de Saint-Tropez, onde Brigitte Bardot mora, na mansão de La Madrague. De uma beleza incrível, provocante e atordoante, ela envolveu o mundo inteiro. Todas as jovens a imitavam. Todos os jovens sonhavam com seus seios. De repente, quando ela fez 38 anos, se recolheu e não voltou mais. Depois de 30 anos, ela mantém sua resolução. Ela desapareceu. Ou melhor, se ela volta de vez em quando, é apenas para lutar pela proteção dos animais: filhotes de foca, humanização dos abatedouros, ações contra o massacre das aves migratórias, etc., etc., etc... Ela criou uma Fundação Bardot, que é de uma eficácia impressionante. Foi um percurso notável. Infelizmente, há um reverso nessa moeda. Esse outro lado está revelado nos livros que Brigitte publica de tempos em tempos. Os primeiros livros já eram muito desagradáveis: misantropia, frieza glacial em relação ao filho, de quem ela jamais cuidou, perfídias sobre seu ex-marido, o simpático Jacques Charrier... O livro que ela acaba de lançar, Un Cri dans le Silence (Um Grito no Silêncio), passa dos limites. Dá náuseas. Claro, ela continua a fazer a defesa dos animais. Explicou que salvou um camarão em um restaurante e lembra que esses animais estão "carentes de amor e de água fresca". De resto, quando se trata de seres humanos, para ela não passam de pacotes de gordura. Eis um pequeno exemplo: Bardot declara seu "ódio à espécie humana". Mas nessa espécie há categorias mais terríveis que outras. Em primeiro lugar, os "invasores muçulmanos". Em seguida, os "desempregados profissionais", os "jovens que não mexem uma palha", a "esquerda, responsável pelas atuais desgraças". Nessa França degenerada, Brigitte Bardot coloca prioridade sobre os homossexuais. Igualmente, sobre os mendigos, essa "gente que profana nossas igrejas para transformá-las em chiqueiros humanos". Inútil dizer que ela é a favor da pena de morte. As escolas estão caindo aos pedaços, com esse "professores que vão dar aula sem fazer a barba, com os cabelos engordurados, jeans desalinhados e tênis imundos". Os artistas não valem muito mais. A arte "se tornou uma merda, tanto no sentido direto quanto no figurado". E a literatura? A literatura é "um puxa-saquismo nacional". Como o tempo passa. Quarenta anos depois de E Deus Criou a Mulher, eis o símbolo sexual Brigitte Bardot de volta, e com qual objetivo: para protestar contra a "liberação dos costumes", essa liberação que "revela as maiores vergonhas deste século" e que coloca os "pedófilos em lugar de honra". É verdade que os homens também mudaram: "O que nos resta do sexo masculino escolheu a profissão de top model e passa a vida em sonhos estéticos." Apenas um homem lhe parece digno: Jean-Marie le Pen, presidente da Frente Nacional. Esse passeio nos braços de Bardot é incômodo. Não apenas por causa de sua nulidade intelectual e de um estilo obsceno próximo do zero. Mas por causa da morte dessa mulher que nós amávamos tanto, que foi uma grande atriz e cuja coragem admiramos quando ela tomou a defesa desses animais sofredores. Ei-la sozinha, com seu rancor, seu ódio de todos, suas dificuldades e suas rugas. Dá pena. Meu Deus! Quanta dor essa mulher tem de suportar para transformar tanta beleza em ruindade? Ela merece compaixão.

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