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‘Bistrô Romantique’ abriga o mundo todo

Joel Vanhoebrouck fala de amor e tempo no ritmo de um menu-degustação; não é preciso mais para tecer uma obra atraente

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

É uma boa surpresa belga. O cinema já conjugou as possibilidades eróticas do verbo comer (Como Água para Chocolate, O Cheiro da Papaia Verde, etc.) e também já transformou um banquete numa via para a iluminação de Deus (A Festa de Babette). O diretor belga Joel Vanhoebrouck não fala propriamente de comida em Bistrô Romantique, mas situa a ação de seu filme num restaurante. Num Dia de Namorados, simultaneamente aos vários atos que compõem o menu-degustação, da entrada à sobremesa, ela fala de gente reunida no salão e nos bastidores, na cozinha.

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De cara, a dona do lugar enerva-se porque, apesar da chuva, ninguém cancelou a reserva – num dia tão especial – e o principal garçom da casa mais uma vez está atrasado. Esse atraso, que vai originar um quiproquó próximo ao desfecho – ela ameaçara despedi-lo para o irmão chef –, ganha um outro significado, mais metafórico. Porque o atraso também é do antigo amante que, sem avisar, reaparece depois de 25 anos para propor a Pascalina que largue tudo e vá para Buenos Aires com ele.

Um filme sobre o tempo? Também, e sobre o comprometimento. As várias mesas compõem uma espécie de ciranda do casal moderno. Não falta o par gay, o sujeito tímido que vai ter um encontro às escuras, o casal em crise após anos de vida em comum, quando a prioridade foi sempre ele (o trabalho dele, a carreira dele). Na cozinha, a dona tem de segurar a onda do irmão irresponsável, e isso significa, entre outras coisas, ser a mãe substituta do filho dele. 

Há o ajudante tímido, também apaixonado pela colega. E há o garçom atrasado que é sedutor. Tudo se encaixa ao ritmo da degustação. Caem algumas máscaras, uniões fazem-se e desfazem-se. Pascalina partirá deixando a sobrinha? Um espaço e o tempo – de mudança? De resignação? O mundo inteiro cabe no restaurante de Joel Vanhoebrouck.

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