Billy Wilder, o crepúsculo de um gênio

O último dos grandes diretores do cinema morreu de pneumonia, aos 95 anos, na quarta-feira. Seu currículo é repleto de clássicos, como Quanto Mais Quente Melhor, Farrapo Humano e Sabrina

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Por Agencia Estado
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Ele foi o homem que levantou a saia de Marilyn Monroe, fez Greta Garbo rir e Audrey Hepburn se apaixonar duas vezes por homens muito mais velhos que ela. Fez Shirley MacLaine se apaixonar num elevador por Jack Lemmon, e Tony Curtis e o mesmo Jack Lemmon tocarem, como drag queens, numa banda feminina. Esse homem, Billy Wilder, morreu na quarta-feira, de pneumonia, aos 95 anos, em Beverly Hills. Um dos últimos grandes diretores da era de ouro do cinema, e incontestavelmente o melhor de todos para fazer as platéias rirem, Wilder nasceu em Sucha, na Áustria-Hungria, hoje território polonês, em 22 de junho de 1906 e emigrou para os Estados Unidos em 1933, com a subida dos nazistas ao poder. Repórter em Viena, escreveu roteiros quando mudou para Berlim e até dirigiu um filme na França antes de partir para a América. Levou um tempo para aprender inglês (nunca perdeu o sotaque pesado), mas em 1937 já vendia roteiros para Hollywood. Morava com o ator Peter Lorre e logo passou a fazer roteiros em parceria com Charles Brackett, o que resultou em comédias clássicas como Ninotchka (1939), em que fez Greta Garbo rir pela primeira vez no cinema. Wilder não gostava muito do jeito com que diretores tratavam seus roteiros e resolveu dirigir ele próprio, filmes como A Incrível Suzana e Cinco Covas no Egito. Em 1944, ele dirigiu o policial Pacto de Sangue, um clássico do noir, baseado em livro de Raymond Chandler. Ganhou Oscars de roteiro e direção com o drama sobre alcoolismo Farrapo Humano, estrelado por Ray Milland. Seu próximo grande filme foi Crepúsculo dos Deuses, até hoje o melhor filme sobre Hollywood. Uma delicada história de amor, Sabrina, mostrou a jovem Audrey Hepburn indecisa entre o playboy William Holden e o soturno Humphrey Bogart. Encontrou uma de suas musas, Marilyn Monroe (que ele considerava igual à Segunda Guerra Mundial: "ambas são um inferno, mas valeram a pena"), em O Pecado Mora ao Lado, que tem a célebre cena em que a atriz tem o vestido levantado sobre um respiradouro do metrô. Emendou com outra história de amor com Audrey Hepburn e Gary Cooper em Paris, Amor na Tarde. Foi seu primeiro filme com outro grande roteirista, I.A.L.Diamond. Mas o melhor da dupla estaria por vir: Quanto Mais Quente Melhor, de 1959, e Se Meu Apartamento Falasse, de 1960. O primeiro tinha Tony Curtis e Jack Lemmon travestidos contracenando com Marilyn Monroe numa orquestra feminina na era do jazz. Se Meu Apartamento Falasse, que ganhou Oscars de melhor filme, direção e roteiro, mostrava Jack Lemmon como um jovem executivo que emprestava seu apartamento para encontros amorosos dos seus superiores. De volta a Berlim, Wilder fez Cupido não tem Bandeira, com James Cagney como um executivo da Coca-Cola, numa comédia de ritmo inigualável. Beija-me Idiota, Uma Loura por um Milhão e A Primeira Página tiveram seus momentos, mas não são os melhores Wilder. O último filme dele reuniu Walter Matthau e Jack Lemmon em Amigos, Amigos, Negócios à Parte, de 1981. Ele tinha como lema "Nunca chateie as pessoas" nos seus filmes e declarou certa vez: "As melhores personagens femininas são sempre as prostitutas".

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