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'Até o Último Homem', de Mel Gibson, mostra rapaz condecorado por seus feitos na 2ª Guerra Mundial

'Até o Último Homem' recoloca o ator e diretor nos holofotes da sétima arte

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Talvez seja, na vida, a típica história hollywoodiana de redenção. Astro de duas das mais populares séries de ação do cinema, a futurista Mad Max e Máquina Mortífera, o australiano Mel Gibson tomou de assalto Hollywood, virou diretor, ganhou o Oscar por Coração Valente (em 1995), e parecia instalado no Olimpo reservado aos deuses do cinema. Mas Gibson começou a beber, brigou com jornalistas, fez declarações consideradas antissemitas e homofóbicas. Virou vilão da própria história. Desculpou-se com os judeus. Não adiantou muito. E aí fez um novo filme como diretor. Redimiu-o o próprio trabalho. Estreia nesta quinta, 26, Até o Último Homem. Na terça, o longa dirigido por Mel Gibson cravou, entre outras, três indicações nas categorias principais do Oscar. Melhor filme, diretor e ator. Andrew Garfield é aquele carinha que foi o Homem-Aranha. Saiu do armário - assumiu-se como bissexual -, mas antes disso já desistira de ser super-herói. É uma contradição em termos que um machista homofóbico o tenha chamado para ser herói de seu filme. Um herói com identidade real. Até o Último Homem conta a história de Desmond T. Doss e sua particular luta para ir à guerra. Andrew Garfield faz esse garoto religioso, com convicções profundas, que não quer tocar em armas - tem motivos para isso -, mas sua consciência o obriga a ir para o front, na 2.ª Guerra.

O diretor. Filme poderoso. Foto: Mario Anzuoni/Reuters

Quer lutar do seu jeito. O Exército tem regras. Mesmo para ser paramédico, ele precisa passar por treinamento militar e isso significa - armas. Doss nega-se. O pai, com quem tem uma relação litigiosa, cerra fileiras com o filho. O garoto vence, vai para a guerra sem armas e, mesmo assim, ganha a Medalha do Congresso, por heroísmo. Uma história altruísta? Não exatamente - não do jeito que Mel Gibson a conta. Intimista em O Homem sem Face, o Mel diretor orientou-se para o épico. Coração Valente, A Paixão de Cristo, Apocalypto. Seus épicos são narrados com som e fúria, jogando o espectador no meio do perigo, com toda a violência possível numa encenação. E, dentro desse horror, Mel busca os momentos íntimos, em que um homem duvida de si mesmo. A Paixão de Cristo - “Pai, Pai, por que me abandonaste?”  Até o Último Homem parece-se com A Paixão de Cristo, porque mostra até onde um homem - lá, era o filho de Deus - vai por suas convicções. O Cristo era moído por seus algozes, e posto que eles eram judeus, mais algumas declarações explosivos - feitas como autodefesa -, fizeram de Mel o antissemita por excelência. Ele se desculpou, agora vai adiante. Doss vira alvo dos colegas recrutas. Mais de um vai salvar. Seu mantra, justamente - “Mais um!”. O preconceituoso Mel abre espaço para que o espectador entenda o outro, o porquê desses homens que agridem o garoto aparentemente indefeso serem como são. No ardor da batalha, Doss está acuado, os camaradas sendo mortos e a arma está a seu lado, no chão. Ele vai usar? Mel não transige. O filme é poderoso.

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