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Análise: Se vencesse o melhor, a estatueta iria para Christopher Nolan

Diretor deveria vencer com 'Dunkirk', mas Nolan é um diretor de blockbusters. A Academia o seleciona para reconhecer que ele é grande, mas lhe nega o que merece

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Faltam duas semanas para o Oscar – domingo, dia 4 – e os indicadores apontam para a vitória de Guillermo del Toro como melhor diretor, por A Forma da Água. Será a quarta vez que um mexicano vence o prêmio da categoria em cinco anos, a começar por Alfonso Cuarón (Gravidade, 2014). Veio depois, duas vezes, Alejandro González Iñárritu (Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), 2015, e O Regresso, 2016).

Se é (quase) certo que Del Toro leve o Oscar de direção, é menos provável que A Forma da Água vença também como filme. É bem possível que, mais uma vez, os votantes da Academia dividam o prêmio. Nesse caso, quem leva? Três Anúncios para Um Crime?

Cena de 'Dunkirk', de Christopher Nolan Foto: Melinda Sue Gordon - Warner Bros. Pictures.

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Se o Oscar fosse honesto... Quantas vezes você ouviu isso? Se vencesse o melhor, entre os cinco indicados deste ano teria de ser o Christopher Nolan, de Dunkirk. É o melhor filme e o melhor diretor – ponto. Mas Nolan é um diretor de blockbusters, a Academia o seleciona para reconhecer que ele é grande, mas lhe nega o que merece.

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Outro diretor de prestígio, entre os cinco, é Paul Thomas Anderson, por Trama Fantasma. Também não ganha. Estar entre os cinco já avaliza seu prestígio. Jordan Peele e Greta Gerwig são os estreantes na lista. Um nergro e uma mulher. Nunca um negro ganhou o prêmio, e Corra!, um filme de terror, vem sendo descrito como emblema das distorções da era Donald Trump.

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Seria histórico, mas é improvável. Só uma mulher ganhou o Oscar de direção – Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror. Kathryn tem aquela direção viril, Greta Grewig vai no campo oposto. A história de uma garota do lado errado dos trilhos. Lady Bird tenta, mas não faz parte da elite wasp. Greta a filma com carinho. Mãe, filha, pai conciliador. Há esperança para Lady Bird – A Hora de Voar.

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O filme é fofo, mas justamente este ano há outra garota do lado errado dos trilhos. Eu, Tonya, com seu formato de falso documentário – todo mundo dando depoimento para a câmera –, é meio a versão punk de Lady Bird. Tonya é patinadora, a melhor. Apanha da mãe, do marido, do sistema. Revida, com golpes de boxeadora – e olha para a câmera, nós, o público, cuspindo sangue, com raiva, senão ódio. Eu, Tonya tem muito mais a cara da América sob Trump, mas vai dizer isso para os membros da Academia – Craig Gillespie nem foi indicado para melhor diretor. É o preço por ter feito o filme mais transgressor do ano – não ficou nem entre os nove finalistas.

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Há um lado perverso na correção do Oscar. Kate Winslet não concorre a melhor atriz – culpa de Woody Allen, seu diretor em Roda Gigante – e Terra Selvagem, de Taylor Sheridan, talvez tenha sido preterido em função de Três Anúncios para Um Crime, por causa do produtor Harvey Weinstein, embora existam similaridades (duas garotas estupradas e mortas). E Terra Selvagem é melhor, claro. Fazer o quê? Nem Steven Spielberg está indicado para melhor diretor, e olhem que The Post – A Guerra Secreta é outra contribuição importante ao debate sobre a democracia na ‘América’.

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