Análise: Roger Moore dá tom irônico ao personagem criado por Ian Fleming

Ator marcou a figura de 007 com um tom mais galhofeiro

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
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A figura de James Bond é um persistente ícone pop e Roger Moore, morto na terça, dia 23, aos 89 anos, foi sua segunda melhor persona - perde, apenas, para o imbatível Sean Connery. Moore assumiu depois de Connery ter passado o bastão ao australiano George Lazenby, que não emplacou. Tiveram que chamar de novo Connery (em 007 - Os Diamantes São Eternos), para um “mandato-tampão”. Mas os produtores precisavam de solução definitiva e então surgiu o nome de Moore. Foi, assim, o terceiro Bond, o homem com licença para matar, adepto de dry martinis e femmes fatales. 

Moore marcou a figura de 007 com um tom mais irônico e galhofeiro, que caiu bem no gosto do público - algo sempre problemático quando um ator “cola” no personagem como fizera Connery com 007. Enfim, foi aceito pelo grande público, que passou a enxergar nele o agente de Sua Majestade.

Ele morreu nesta terça-feira, 23. Foto: Rolf Vennenbernd/AFP

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As origens de Moore como 007 têm de ser prospectadas numa série de grande sucesso nos anos 1960, O Santo. Como se recordam os espectadores sessentões, a série passou na TV brasileira e seus fãs não perdiam um episódio por nada deste mundo. Moore interpretava o detetive Simon Templar, que esbanjava charme com sua moralidade ambivalente. A história fora criada no final dos anos 1920 pelo escritor britânico Leslie Charteris e lembra aquela ambiguidade da literatura (e dos filmes) noir. Como o sucesso da série, e o humor com que Moore impregnava o personagem, era quase natural sua escolha para viver o novo Bond. 

Deu tão certo que se tornou o intérprete de 007 em maior número de produções oficiais - sete, uma delas com cenas ambientadas no Brasil, uma luta em pleno bondinho do Pão de Açúcar em 007 Contra o Foguete da Morte. Mau filme, por sinal. Talvez o pior. O melhor, possivelmente, é O Espião Que me Amava. 

O Santo era apenas boa diversão. Assim como 007. Se existe algo de interessante na franquia James Bond é essa certeira autoironia do personagem, uma bela contribuição de Moore, embora fundamentalistas prefiram a fleumática seriedade de Connery.

O personagem criado por Ian Fleming surge com a Guerra Fria, quando espiões eram figuras centrais nas disputas entre o “mundo livre” e vilões “do outro lado”. Esse mundo bipolar e singelo foi perdendo sentido e a série não resistiu aos novos e mais complexos desafios da História. Estourou o prazo de validade e a ficção sobreviveu como paródia. Moore ainda pegou o rescaldo dos bons tempos e a eles imprimiu sua marca.

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