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Análise: 'Chatô' é o último grande filme tropicalista que consegue ser atual

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Cacá Diegues matou a charada ao definir Chatô, de Guilherme Fontes, como o último grande filme tropicalista. E o ator Marco Ricca arremata, na entrevista – não é uma biografia de Assis Chateaubriand, como o livro de Fernando Morais em que se baseia, mas uma interpretação do personagem e do Brasil. Acima de tudo, Chatô, o filme, é uma belíssima surpresa. Durante uma década de meia, o ator e aqui diretor Guilherme Fontes foi colocado sob suspeita. As contas da produção careceriam de lisura. O projeto foi cassado pelo governo federal e Fontes teve de brigar na Justiça pelo direito de concluir seu filme.

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Na ficção que armou com seus roteiristas – entre eles João Emanuel Carneiro, o noveleiro de A Regra do Jogo –, Assis Chateaubriand, o lendário dono da rede de Diários e Emissoras Associados, sofre um ataque e, preso ao leito, tem um delírio em que se vê dentro de um show de TV transmitido para todo o Brasil, mostrando a ascensão e queda de seu império midiático. Mulheres, alianças, inimigos. Na (re)visão de Fontes, o público e privado se fundem no quebra-cabeças que é a vida de Chatô.

E, já que o objetivo não é fazer uma biografia realista, a liberdade de tom impõe-se por meio da desconstrução temporal e da carnavalização. É quase como se a vida de Chatô passasse num enredo de escola de samba. Ao invés da Sapucaí, o julgamento na televisão. Chatô, afinal, escolheu fazer a história do Brasil em vez de reportá-la como jornalista. Cidadão Kane, o clássico de Orson Welles, é devorado por Macunaíma.

Nesse sentido, tudo o que ocorreu com o filme – a comédia de erros desmontada no Tribunal de Contas da União (as contas não careciam de lisura) – acrescenta à ficção armada com alguns ‘toques’ de Francis Ford Coppola, que quase foi parceiro de Fontes. Chatô não é mito. O filme existe e é grande. Um monumento crítico do Brasil, que ganha em atualidade por tudo que anda ocorrendo no País.