O ponto de interrogação ao lado do título do documentário Amor? não é por acaso. O sinal de pontuação está ali exatamente para mostrar que este é um filme de questionamentos, tanto emocionais quanto formais. Dirigido por João Jardim (Pro dia nascer feliz), o longa transita entre o gênero documental e a encenação, sem nunca chegar a ser um filme ficcional. A estrutura lembra ligeiramente Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho, mas aqui o filme se abre de outra forma. Atores profissionais - a maioria deles bem conhecidos do grande público, como Lília Cabral, Eduardo Moscovis e Julia Lemmertz - encenam depoimentos colhidos pelo diretor e sua equipe sobre histórias de amor complicadas. Por "complicadas", entendam-se romances em que aconteceram agressões físicas, psicológicas, verbais. Cada um dos atores fala diretamente à câmera, contando "sua" história em primeira pessoa como se fossem eles mesmos. O diretor usou o recurso da encenação para evitar problemas legais. As histórias contadas têm como elemento comum as agressões. Todos os depoentes agridem e/ou são agredidos em algum momento de seu relacionamento. Algumas das pessoas estiveram bem perto da morte pelas mãos daqueles que amavam. É aí que entra a interrogação do título: esse tipo de relação é amor? Essa dependência que beira o doentio é afeto? Quando o carinho deixa de existir e se transforma numa ameaça de morte? Qual o caminho seguido entre a paixão e a agressão? Ao mesmo tempo, "Amor?" não traz respostas claras a questionamentos como esse. Este é um trabalho que propõe reflexão, mais do que explicações. Jardim e seu elenco deixam no ar as respostas - se é que elas existem.