‘Acossado’, de Godard, está entre as estreias de cinema do fim de semana

Primeiro longa-metragem de Jean-Luc Godard, filme traz uma estética inovadora para uma clássica história de amor bandido

PUBLICIDADE

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

O título original de Acossado, À Bout de Souffle, Sem Fôlego, fala de personagens que vivem rapidamente, como à beira do abismo. Fala, também, do ritmo alucinante imposto por Jean-Luc Godard a seu primeiro longa-metragem. Acossado reestreia, em cópia nova, 68 anos depois de ter sido lançado. E de ter caído como inesperado coquetel molotov sobre o careta meio cinematográfico francês daquela época. 

Cena de 'Acossado' Foto: ZETA FILMES

PUBLICIDADE

Acossado (1960) pode não ser o primeiro filme da nouvelle vague. Sai um pouco depois de Os Incompreendidos (Les Quatre-Cents Coups, 1959), de François Truffaut. E os dois, depois de Nas Garras do Vício (Le Beau Serge, 1958), de Chabrol. Há quem sustente que todos foram precedidos por La Pointe Courte (1954), de Agnès Varda. Mas Varda não pertencia ao núcleo do movimento dos jovens críticos e diretores, os jeunes turcs. 

Em todo caso, Acossado é como um cartão de visitas da nova estética. Inspirado nos policiais B norte-americanos e não na alta literatura francesa, traz em seu DNA a rapidez, a volúpia e a angústia existencialista do pós-guerra. 

Tanta inovação para um caso de amor bandido: Jean-Paul Belmondo faz Michel Poiccard, pequeno marginal por quem se apaixona Patricia, a jovem norte-americana vivida por Jean Seberg, que vende jornais nas ruas de Paris. O affair é tórrido e reserva desfecho pouco usual. 

Godard alterna cenas nas ruas de Paris a outras no exíguo espaço de um quarto de hotel. Em ambas situações, a força da câmera dá impulso inesperado a cenas e atores. Os cortes abruptos (jump cuts), que na época chocaram os tradicionalistas, foram incorporados à linguagem do cinema moderno. 

Aliás, o filme respira modernidade por todos os poros. Do ritmo à música de jazz, da persona cool e atrevida de Belmondo à ternura despojada de Jean Seberg, com seu corpo esguio e cabelo curtinho. Por seu espírito inovador, inspirado e ousado, Acossado deve ser considerado um dos maiores filmes da história do cinema.

A Rússia terrível sob o olhar profundo de Zvyagintsev

Publicidade

Sem Amor / Loveless  (Rússia, 2017, 128 min.) Dir. de Andrey Zvyagintsev com Maryana Spivak, Aleksey Rozin, Matvey Novikov,  Marina Vasilyeva, Andris Keišs,  Sergey Dvoinikov, Artyom Zhigulin

Indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro por Leviatã, o russo Andrey Zvyagintsev já dera um testemunho terrível sobre a situação da Rússia pós-comunista do czar Putin. Leviatã concorreu ao prêmio da Academia em 2015 e, três anos depois, o autor está de novo na disputa, e com um filme ainda mais impressionante. Talvez, pela dimensão política, pela atualidade – a eterna crise do Oriente Médio –, O Insulto venha a ganhar o prêmio da categoria, e será merecido. Mas o melhor dos cinco postulantes ao Oscar de filme estrangeiro é o de Zvyagintsev.

Um casal, um processo litigioso. Marido e mulher odeiam-se. Nenhum quer ficar com o filho. O menino, escondido atrás da porta, ouve tudo. Sofre com a rejeição. Desaparece. Sua dor permanece viva. Seu grito acusador persiste no imaginário do público. O testemunho sobre o país dilacerado bate com força nas telas, e numa realização brilhante. Luiz Carlos Merten

Caso no tribunal expõe crise do Oriente Médio

PUBLICIDADE

O Insulto / L’Insulte (Líbano, 2017, 112 min.) Dir. de Ziad Doueiri, com  Adel Karam, Kamel el Basha,  Rita Hayek, Diamond Bou Abboud

No fim do ano passado, quando inaugurou o Festival de Cinema Libanês em São Paulo, já havia um rumor de que o longa de Doueiri tinha tanta força que dificilmente deixaria de estar entre os indicados para o Oscar de filme estrangeiro, na seleção final. Foi o que ocorreu. Com dois atores extraordinários – mas só Kamel el-Basha foi premiado em Veneza –, o filme mostra como um incidente banal entre um cristão e um refugiado palestino reabre velhas feridas no tribunal e ameaça levar o Líbano à beira de uma nova guerra. É o filme mais emocionante da categoria, atual e vigoroso. Poderá até vencer. / L.C.M.

Jake Gyllenhaal e o Oscar que não vem O Que te Faz Mais Forte / Stronger  (EUA, 2017, 119 min.)Dir. David Gordon Green, com Jake Gyllenhaal, Tatiana Maslany

Publicidade

Jake Gyllenhaal tem-se esforçado muito com filmes e papéis que poderiam encurtar sua caminhada para o Oscar. Em 2016, Mark Wahlberg e o diretor Peter Berg já haviam contado a caçada aos terroristas da Maratona de Boston em O Dia do Atentado. O fim daquele filme é o começo desse. Jake faz Jeff Bauman, que perde as pernas no atentado e detona a caçada. Herói americano? Poderia ser uma patriotada típica da era Trump, mas Jake, Miranda Richardson, que faz sua mãe, e o diretor David Gordon Green são bons demais para isso. A Academia, de qualquer maneira, não mordeu a isca. / L.C.M.

Apenas garotos numa trama sobre vampiros

Meu Amigo Vampiro / The Little Vampire  (Al, Hol, Dinamarca, Reino Unido, 2017, 80 min.)Dir. de Richard Claus, Karsten Kiilerich

Sucesso planetário, com mais de 12 milhões de livros vendidos em todo o mundo, a série infantil My Little Vampire – Meu Pequeno Vampiro –, de Angela Sommer-Bodenburg, ganhou essa versão nada brilhante, mas simpática, para as aventuras (ou desventuras) de seu pequeno protagonista. Rudolf é um vampirinho de 13 anos, já entediado da vida, e ainda por cima com um caçador de vampiros em seu encalço. Conhece Tony, um garoto de 12 que passa férias com a família no castelo transformado em hotel. Esqueça as diferenças, são apenas dois garotos em busca de diversão – e afeto. As cópias são em 2 e 3D. / L.C.M.​

Christian e Anastasia na hora da verdade

Cinquenta Tons de Liberdade / Fifty Shades Freed  (EUA, 2018, 106 min.)Dir. James Foley com Jamie Dornan, Dakota Johnson, Rita Ora

Dentro da categoria ‘Bad movies we like’, talvez exista um espacinho para o fecho da trilogia. Há controvérsia, claro, mas o primeiro filme era bom, uma interessante abordagem de Christian Grey como versão masculina da Marnie de Alfred Hitchcock. O 2 mudou tudo e piorou muito. O 3, agora, carrega nas cenas de sexo, nos carros e até na trama policial (por frouxa que seja). No limite, Anastasia segue sendo a obsessão de Christian e o filme, de novo, é sobre ele. Conseguirá o pobre menino rico vencer seus temores e ser um bom pai? O que você espera, adverte Dakota Johnson, com tanto sexo? / L.C.M.​

Publicidade

Pré-estreias

Lady Bird – A Hora de Voar / Lady Bird  (EUA, 2017, 93 min.)Dir. Greta Gerwig, com Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts, Lucas Hedges, Timothée Chalamet

Saoirese Ronan poderá nem ganhar o Oscar, para o qual está indicada, mas Lady Bird, o longa de estreia da atriz e roteirista Greta Gerwig já está voando mundo afora. Um conflito de mãe e filha, e muito mais. Toda a força ao encanto do cinema indie. / L.C.M.​

Três Anúncios Para Um Crime / Three Billboards Outside Ebbing, Missouri  (EUA, R. Unido, 2017, 116 min.) Dir. Martin McDonagh, com Frances McDormand, Sam Rockwell

O fato de não ter fim é o menor dos problemas. Transformado em bandeira do empoderamento feminino, o longa vai dar a Frances McDormand seu segundo Oscar, mas a história da mãe em busca de justiça é só um filme dos Coens de segunda mão. / L.C.M.​

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.