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A vingança do metal farofa

Filme 'Rock of Ages', que estreia dia 24, traz performance memorável de Tom Cruise como um caricato rock star

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Foi uma época em que o heavy metal fazia permanente nos cabelos e usava ventiladores para balançá-los nos shows. Os videoclipes sempre tinham de ter um overacting trágico qualquer nos agudos. As canções pareciam que tinham a Céline Dion como parâmetro estético.

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Para retratar um tempo tão equivocado, só há um caminho: comece compilando algumas das baladas mela-cuecas mais manjadas dos anos 80. Eis o filé mignon: More than Words, do Extreme; Nothing but a Good Time, do Poison; I Want to Know What Love Is, do Foreigner; Here I Go Again, do Whitesnake; Every Rose Has its Thorn, do Poison; Wanted Dead or Alive, do Bon Jovi; Any Way You Want It, do Journey; Heat of the Moment, do Asia. Adicione a elas um rock star frankensteiniano, que junta pedaços de Sebastian Bach, Axl Rose, Slash, Dave Mustaine e um monte de outros maneiristas do métier.

Eis o que é Rock of Ages - O Filme, musical que resgata de um limbo histórico o período que a crítica musical convencionou chamar de “os tempos do metal farofa”. É mais que um grande tributo a uma era (o Darkness já tinha feito isso, com suas malhas de oncinha). É a reabilitação de um mundo expurgado dos ambientes do “bom gosto” roqueiro - embora insista em viver para sempre no dial de rádios pelo mundo todo, da Patagônia ao Azerbaijão.

A história é a seguinte: em 1987, o rock agoniza nas mãos de astros entupidos de uísque, sexo, anfetaminas e falta de motivação, como Stacee Jaxx (Tom Cruise), vocalista do Arsenal. As boys band estão em alta, a música virou só um grande negócio. Os rock stars só conseguem cantar ainda em porões infectos, como o do Bourbon Room, em Los Angeles, outrora grandioso (uma espécie de CBGB do B). O próprio proprietário do clube, Dennis Dupree (Alec Baldwin) agoniza, enfrentando os impostos em atraso e a Liga das Senhoras Católicas local, encabeçada pela primeira-dama Patricia Whitmore (Catherine Zeta-Jones).

No meio dessa atmosfera de cinismo e suicídio fashion, ainda há lugar para inocência. É quando se encontram Sherrie (Julianne Hough) e Drew (Diego Boneta), garçons do interior com veleidades artísticas - ambos sonham subir ao palco e cantar. Mas o núcleo do musical importa pouco. O filme é um veículo para uma performance memorável de Tom Cruise. A entrevista que seu personagem, Stacee Jaxx, concede para uma repórter da revista Rolling Stone (Malin Akerman, em seu momento Paris Hilton definitivo), no filme, é um tratado da demência no star system. E tudo termina como naquela célebre entrevista da apresentadora Doris Giesse: nos finalmentes, em cima de uma mesa de sinuca.

Sebastian Bach e Nuno Bettencourt (Extreme) participam do filme como eles mesmos, entre outros astros. Cruise é misantropo como Axl Rose, zoomórfico como Slash, alienado como Michael Jackson, viciado em groupies como Dave Mustaine. Banca o caubói e fala por parábolas, lembrando também Lemmy, do Motörhead. É a mais engraçada caricatura de um rock star em muitos anos de cinema. E, desde Grease, o rock não tinha um filme tão expressivo como retrato de um período da música e da cultura populares.

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