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A Itália mostra seu candidato ao Oscar no Festival do Rio

Jonas Carpignano está na cidade com seu longa ‘A Ciambra’, uma produção da dupla Scorsese e Rodrigo Teixeira

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

RIO - E o Festival do Rio segue com suas atrações nacionais – e internacionais. Ontem pela manhã, dia 10, chegou à cidade o italiano Jonas Carpignano, de A Ciambra. O longa produzido pela dupla Martin Scorsese e Rodrigo Teixeira, via a RT Features, é o candidato da Itália para tentar uma vaga no Oscar. Mal chegou ao hotel, em São Conrado, Carpignano correu para o mar e, no começo da tarde, já estava dando entrevista para o Estado. É a vantagem de ser jovem. Carpignano mal passou dos 30.

Pio D'Amato. O garoto romani do longa italiano vem de outro filme que o diretor Carpignano dirigiu em 2015, 'Mediterrânea' Foto: RT FEATURES

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Sobre o Oscar, ele tenta não se empolgar muito. “Agora, estou aqui, curtindo o Rio. Depois vou aos EUA, para três semanas de campanha (para o prêmio da Academia). Vou a Los Angeles, talvez Nova York. Vou aonde Marty (Scorsese) e Rodrigo (Teixeira) me mandarem. Fiz minha parte, o filme. Agora, não depende de mim.” A Ciambra vai competir com Bingo, de Daniel Rezende, indicado pelo Brasil. Conta a história de um garoto romani no submundo do crime, numa cidade do Sul da Itália. O filme começou a nascer há dois anos. Pio (D’Amato), o protagonista, era personagem secundário de Mediterrânea, que Carpignano dirigiu em 2015. Ele fez um curta testando o personagem, e agora o longa.

Um filme forte, impactante. E a Academia adora crianças. “Eu sei”, diz Carpignano. “Só não sei se gosta de um garoto como o meu, que faz seu rito de passagem por meio da violência.” Pio, no filme, projeta-se no irmão mais velho, Cosimo. São irmãos de verdade. O olhar é de documentarista, mesmo que se trate de uma ficção. E Pio, por que não veio junto? “Ele está de carro, arranjou uma namorada. Nem responde a meus telefonemas e e-mails. Está totalmente entregue ao amor e ao sexo”, comenta o diretor. Seu mestre declarado é Roberto Rossellini, e ele conta que o avô, um conhecido publicitário italiano, foi quem despertou nele a paixão pelo cinema. “Mas ele é viscontiano de carteirinha”, conta. O repórter conta que Rocco e Seus Irmãos é seu filme do coração. “Rocco! É belíssimo. Era garoto e meu avô me mostrou justamente Rocco e La Terra Trema. O cinema virou minha vida.”

Por conta do Foco Itália no Festival do Rio, há uma delegação italiana na cidade. Luca Guadagnino, de Me Chame pelo Seu Nome, já foi embora, mas permanecem Sebastiano Riso, de Uma Família, e Carpignano, recém-chegado. Ele adora o Rio – “Tenho familiares que moram aqui.” Riso mostrou Uma Família no Festival de Veneza. O filme provocou reações extremas – não é uma defesa da família tradicional – e, no fim de semana, a casa do cineasta foi invadida e ele, agredido. Mesmo assim, veio. O repórter deve encontrá-lo nesta quarta. Riso com certeza vai falar do avanço da direita na Itália. O conservadorismo está em toda parte e é preocupante.

Prossegue a Première Brasil, que, à parte das ficções na mostra competitiva, tem mostrado muitos documentários – entre eles retratos de artistas. Clara Estrela, de Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir, dá voz à mítica Clara Nunes, reconstituindo, por meio da participação de Dira Paes, depoimentos que ela deixou na mídia. É lindo. Eu, Pecador prossegue com a série de documentários polêmicos de Nelson Hoineff. O autor está sempre tentando pensar o Brasil, sejam seus personagens Paulo Francis ou Chacrinha. O novo capítulo dessa história do Brasil é fornecido por Agnaldo Timóteo. Cantor e político, ele conta histórias e externa opiniões muitas vezes ultrajantes. Se o objetivo era criar controvérsia, Hoineff conseguiu – de novo.

Do Nordeste veio Açúcar, da dupla Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira. Ela já dirigiu, ele coescreveu Amor, Plástico e Barulho. Agora, coassinam a direção. O novo filme mostra Maeve Jinkins de volta ao decadente engenho da família. Os trabalhadores da usina falida cobram velhas dívidas. Há uma intervenção do fantástico, por meio do sincretismo religioso. O resultado é irregular, mas tem seus momentos. Um crítico comentava na saída – “Não seria um filme pernambucano sem safadeza.” Tem sexo, ótimas atrizes – Magali Biff garante a intensidade de sua personagem – e uma trilha vibrante, incluindo a canção Mama, por Agepê.

Por falar em canções, a seleção internacional do Rio está exibindo a Jeannette de Bruno Dumont. A Infância de Joana D’Arc. Aos 8 anos, no Vale do Loire, ela cuida de suas ovelhas, mas tem consciência do mundo à sua volta, o que a levará à guerra contra os ingleses. A sacada de Dumont foi ter feito de seu filme um musical, com canto e dança. Mas que ninguém espere um musical hollywoodiano. Jeannette está mais para o que poderia ser um musical do mestre português Manoel de Oliveira. O mais ‘oliveiriano’ dos filmes que o grande Manoel não realizou.

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