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'A Grande Jogada' e 'Trama Fantasma' estão entre as estreias da semana

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Carlos Merten e Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Havia a expectativa de que Jessica Chastain confirmasse a indicação para melhor atriz de drama no Globo de Ouro e ficasse entre as finalistas do Oscar por seu papel em A Grande Jogada.

A Academia ignorou-a e, no entanto, em fase de empoderamento feminino, a personagem parecia ter tudo a ver. Molly Bloom não apenas existiu de verdade como construiu uma carreira no mundo predominantemente masculino do pôquer. Mais uma mulher a vencer o patriarcalismo, e com que armas? Molly é bela, sexy, desejável. Joga (é o tema do filme) com o desejo, mas impõe limites. Atrai celebridades de Hollywood para sua jogatina e, quando o FBI a pressiona, resiste. Recusa-se a entregar nomes.

Chastain. Ela vive Molly, uma manipuladora Foto: STX

Aaron Sorkin tornou-se conhecido como roteirista de cinema e TV. A Rede Social, The West Wing, The Newsroom. Baseou-se no livro autobiográfico de Molly, que tem um título enorme – Da Elite de Hollywood ao Clube dos Garotos Milionários de Wall Street etc. etc. Mais de um crítico já disse que aqui ele misturou Martin Scorsese (Cassino) com um tributo à “screwball comedy”, fazendo o seu Jejum de Amor, ao beber na fonte do clássico de Howard Hawks, de 1940. Diálogo taco no taco, mulheres de faca na bota. Só que lá, como sempre em Hawks, Rosalind Russell aumenta os perigos do homem (Cary Grant) e aqui, quase 80 anos depois, Jessica, como Molly, depende de Idris Elba. Não é a primeira feminista (em termos) a precisar da ajuda masculina. Mas a Academia não mordeu a isca. Sorkin escreve bem, filma mal. Não propriamente mal, médio. A personagem, afinal, não é tão interessante, o jogo, o pôquer, às vezes parece mobilizar mais o diretor. Jessica, Elba valem o esforço. Ele é, do ponto de vista masculino, um bom equivalente do erotismo dela. Aliás, por que Elba a defende? Você não perde por esperar. E tem Michael Cera, como Player X, um astro de Hollywood obcecado por jogo. É ótimo e carrega, com outros personagens secundários, o verdadeiro comentário social do filme, sobre a degradação (moral) produzida pela dependência. O resto é glamour.

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A Grande Jogada / Molly’s Game(EUA-China/2017, 140 min.) Dir. de Aaron Sorkin.  Com Jessica Chastain, Idris Elba, Kevin Costner. 

'Trama Fantasma' -  Luiz Zanin Oricchio

Daniel Day-Lewis avisou que vai se aposentar. Ao ver este que, em tese, seria seu último trabalho, você vai torcer para que ele não cumpra a promessa. Em A Trama Fantasma, Lewis encarna (literalmente) o figurinista Reynolds Woodcock, que costura para a realeza britânica e a aristocracia. Woodcock é um detalhista extremo, um obsessivo. Como tal, é retratado por Lewis no belo filme dirigido por Paul Thomas Anderson. O personagem é formal e contido, até perder um pouco o rebolado ao conhecer a garçonete Alma (Vicky Krieps), que se torna sua musa e modelo. Um filme de sutilezas. Tem seis indicações ao Oscar.

(EUA/2017, 133 min.)Dir. de Paul Thomas Anderson. Com Daniel Day-Lewis, Vicky Krieps

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Pequena Grande Vida - Luiz Carlos Merten

Não tem risco de spoiler. O trailer já entregou tudo, até a melhor cena de Pequena Grande Vida. Matt Damon submeteu-se à miniaturização, acorda desse tamanhinho na UTI e cadê a mulher, que deveria estar a seu lado? Tã-tã-tã. O novo longa de Alexander Payne pega carona no politicamente correto. Pessoas menores gastam menos, poluem menos. Damon vai parar nessa comunidade de liliputianos. O tamanho diminui, os problemas aumentam. As pessoas, de maneira geral, continuam como sempre foram. Christoph Waltz é o vizinho, imagine. Payne é um diretor de Oscar, mas dessa vez a Academia não entrou na dele.

Pequena Grande Vida. / Downsizing (EUA/2017, 136 min.)Dir. de Alexander Payne. Com Matt Damon, Kristen Wiig, Christoph Waltz

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 Minha Amiga do Parque - Luiz Zanin Oricchio

O roteiro faz a diferença neste Minha Amiga do Parque, produção argentina dirigida por Ana Katz. Liz (Julieta Zylberberg) é uma jovem mãe, cujo marido trabalha no exterior. Ela costuma levar o bebê ao parque e lá conhece uma mulher simpática e envolvente, Rosa (vivida pela diretora Ana Katz). As duas fazem amizade imediata, mas Liz percebe que o comportamento de Rosa às vezes se torna misterioso. Essa peça minimalista sobre a amizade feminina, a desconfiança e a paranoia mostra como o cinema dos hermanos encaixa-se bem no ambiente intimista, preenchido pela psicologia de personagens bem construídos.

Minha Amiga do Parque. / Mi Amiga del Parque  (Arg-Uruguai/2014, 86 min.)Dir. de Ana Katz. Com Julieta Zylberberg, Ana Katz, Maricel Álvarez

Paulistas - Luiz Zanin Oricchio

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Paulistas é uma pequena cidade na zona rural de Goiás. Ela dá nome ao documentário de Daniel Nolasco, que mostra as transformações da região através da vida dos irmãos Samuel, Vinicius e Rafael. Eles se mudam para Catalão e só voltam à fazenda nas férias. É um filme observacional, que se explica muito pouco. Trabalha com o sensorial e capricha nas cenas em tempo real. Como se propusesse imersão em tempos e valores estranhos a uma percepção urbana da realidade. Diante de linguagem cinematográfica tão lacônica e rarefeita, o espectador acaba por receber muito pouco do que o diretor teria a dizer.

Paulistas. (Brasil/2017, 86 min.)Dir. de Daniel Nolasco

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