Yves Bouvier escapa por pouco da prisão

O suíço, famoso marchand, é acusado de roubar clientes milionários no obscuro mundo das artes visuais

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Por Redação
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Qualquer bilionário que tenha um fraco por Picasso ou Gauguin conhece Yves Bouvier. O afável empresário suíço é proprietário e administrador da Natural Le Coutre, uma das maiores empresas de entrega e armazenamento de obras de arte para clientes super-ricos. Bouvier é pioneiro no conceito dos “freeports” (zona franca de arte) ou seja, instalações para armazenar e para exposições particulares muito populares entre plutocratas que possuem muito mais pinturas, esculturas e vinhos finos do que seus palácios conseguem abrigar. Yves Bouvier também funciona como intermediário em transações muito discretas entre colecionadores e foi este papel de intermediador que acabou lhe causando problemas.

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Em 28 de fevereiro, Yves Bouvier foi indiciado em Mônaco, acusado de fraude e cumplicidade num processo de lavagem de dinheiro, mas foi solto posteriormente mediante o pagamento de uma fiança de 10 milhões de euros (US$11 milhões). Ele é investigado por supostas fraudes cometidas com relação a um antigo cliente, Dmitry Rybolovlev, oligarca que fez fortuna negociando com fertilizantes e é proprietário de um clube de futebol de Mônaco. As suspeitas do russo aumentaram depois de um encontro casual com o vendedor de uma obra de arte que ele havia adquirido por intermédio de Bouvier (compradores e vendedores em negócios como obras de arte com frequência são mantidos à distância).

Ele concluiu que o empresário secretamente aumentou sua comissão manipulando documentos de modo que os papéis do comprador exibissem um preço maior do que os do vendedor. Os advogados de Bouvier negaram algum envolvimento neste tipo de transgressão.

O caso pode minar a viabilidade do R4, parque de exposições e de artes cênicas avaliado em 150 milhões de euros num espaço de 20.000 metros quadrados na Île Seguin, em Paris: os trabalhos de construção devem começar este ano e Bouvier é seu principal patrocinador. E também pode levar a uma investigação mais profunda dos seus “freeports” de última geração em Genebra, Singapura e Luxemburgo, que, juntos, abrigam objetos valiosos equivalentes a centenas de bilhões de dólares. Eles já estão na mira dos órgãos reguladores por causa dos benefícios fiscais e do segredo que oferecem - embora Bouvier tenha sempre rejeitado com veemência que são refúgios para contratos suspeitos e peças ilícitas.

Independente dos fatos do presente caso, os críticos afirmam que chegou o momento de deixar mais às claras o mundo da arte. A fiscalização tem sido escassa, mesmo com a arte se transformando numa classe de ativo. São abundantes as histórias de confabulações entre licitantes para apoiar os preços num leilão e dos chamados lances fictícios com o objetivo de elevar o preço da peça que está sendo leiloada. As casas de leilão passaram a agir com mais responsabilidade depois de um escândalo de fixação de preços que eclodiu nos anos 1990, mas algumas ainda se envolvem em práticas questionáveis, como os lances “irreversíveis”, em que terceiros garantem o preço de uma venda e recebem uma comissão se o valor é excedido, mas não precisam revelar se foram eles próprios que ofereceram lances mais altos.

Diante da falta de transparência dos negócios, acusações de atividades desonestas são de difícil verificação. Seus defensores alegam que os compradores em geral são pessoas ricas e sofisticadas e podem se proteger. Na verdade, outros compradores bilionários provavelmente acompanharão Rybolovlev e começarão a partir em busca dos vendedores das obras para verificar se a sua documentação está de acordo.

© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR TEREZINHA MARTINO, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

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