Marcos Piffer lança livro sobre patrimônio arquitetônico natural

Obra do fotógrafo vai se transformar em exposição da Unesco em Paris

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Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
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O nono livro do fotógrafo santista Marcos Piffer exigiu dele oito meses de viagens para produzir mais de 8 mil imagens, das quais 180 foram cuidadosamente selecionadas para revelar sua abordagem antropológica de 19 sítios escolhidos pela Unesco como retratos reveladores do país. O livro, Patrimônio da Humanidade no Brasil: Suas Riquezas Culturais e Naturais, publicação conjunta da Unesco e Editora Brasileira, é um projeto editorial que Piffer concebeu em 2002, ao realizar um ensaio de encomenda em oito locais considerados de interesse arquitetônico ou natural, segundo a convenção para a proteção do patrimônio mundial da Unesco, de 1972.

Piffer tem uma longa história ligada ao tema. Seu primeiro livro, Santos – Roteiro Lírico e Poético, publicado em 1997, é um dos mais sensíveis ensaios sobre a cidade. Mapeia importantes prédios históricos do centro e traduz, como promete o título, o lado lírico de um balneário mais conhecido por seus jardins praianos e menos por seus edifícios. Formado em arquitetura e ex-aluno de Cristiano Mascaro, é natural que seu interesse convergisse para a proteção do patrimônio. Provas dessa dedicação são seus livros anteriores, em particular o ensaio sobre o edifício Caetano de Campos (publicado em 2000) e seu levantamento do patrimônio histórico, cultural e natural da Baixada Santista (de 2010).

Fernando de Noronha nolivro "Patrimônio das Humanidade no Brasil", do fotógrafo santista Marcos Piffer Foto: Marcos Piffer/Divulgação

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Professor em duas faculdades de arquitetura, Piffer não se contenta em registrar apenas o que vê. Quer adensar a relação entre fotografia e história da arte. A fotógrafa e curadora Rosely Nakagawa dizia dele que deveria ter sido um pintor. Piffer, de fato, considera-se um paisagista – talvez na tradição romântica do inglês Turner, que, de tanto estudar os pintores holandeses do século 17, acabou por fazer convergir luz e cor para um espaço volátil. Sintomático que Piffer tenha olhado mais para as nuvens que para a terra, quando fotografou o citado livro encomendado pelo banco, em 2002.

Há, no livro agora lançado, também esse olhar dirigido para o alto, como prova a foto central, que ocupa uma página dupla com nuvens sobre a chamada Costa do Descobrimento (oito reservas naturais de mata atlântica nos estados da Bahia e Espírito Santo). Se Turner criou a pintura atmosférica que mais tarde resultou no impressionismo, ao explorar a incidência da luz sobre a cor instável, Piffer usou sua lição não para diluir detalhes arquitetônicos, como o pintor, mas para reforçar o poder da construção. Essa é a sua poética, uma crença inabalável no poder da natureza, mas especialmente no humano, o de construir monumentos arquitetônicos.

“O desafio maior, no caso do livro, era produzir imagens que mostrassem a relação desse patrimônio com a população em cidades muito fotografadas, como Salvador e Olinda”. Meninos que jogam bola no centro histórico de Goiás, senhoras que passam com sombrinhas em frente a casas tombadas pelo Iphan na cidade sergipana de São Cristóvão, todos são incorporados à paisagem. Nessa abordagem antropológica, Piffer acumulou anotações que poderão, no futuro, render novos ensaios. “A figura humana aparece sempre nessas fotos, com a possível exceção das imagens da Serra da Capivara, no Piauí. O parque, criado em 1979 numa região de caatinga, tem desenhos em rochas e cavernas de interesse arqueológico, alguns registrados no livro.

Do ponto de vista arquitetônico, um dos ensaios mais ricos é o dedicado ao centro histórico de São Luiz, no Maranhão, criação dos franceses no século 17. Reconquistado pelos portugueses, depois tomado pelos holandeses, o centro é um produto híbrido em que convivem todos os invasores. Uma foto, em particular, sintetiza, ainda que involuntariamente, a relação do nativo assustado com essa herança, a de uma menina afro-brasileira saindo de uma casa azulejada. “Ela saiu de repente e achei curioso”, conta Piffer.

Para o livro, o fotógrafo contou com a colaboração do artista plástico paulistano Paulo von Poser, também arquiteto, responsável pelas ilustrações do patrimônio cultural imaterial. A doutora em Ciências da Informação e mestre em artes Marilúcia Bottallo é a autora do texto introdutório da obra.

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Segundo o fotógrafo, a Unesco programa para abril o lançamento do livro em Paris com uma exposição das fotos que estão em Patrimônio Cultural da Humanidade no Brasil. É o reconhecimento do esforço do premiado Piffer, que inaugura outra mostra, no dia 8 de dezembro, na nova galeria de arte da Deicmar, na sede da empresa, no porto de Santos.

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