Grupo de arte concreta cubana está reunido em exposição na Dan Galeria

Atuante nos anos 1950, antes da ascensão de Fidel Castro ao poder, artistas como Loló Soldevilla, Sandu Daire e José Mijares estão representados na mostra

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Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Uma semana antes da abertura da Bienal de São Paulo, não deixa de ser uma volta histórica a dos concretistas cubanos que integravam o grupo Diez Pintores Concretos e chegaram a participar da mostra internacional antes que o regime de Fidel Castro desprezasse a arte de tendência abstrata ou geométrica em Cuba, ao tomar o poder, em 1959. Na exposição La Isla Concreta, que a Dan Galeria abre na sexta-feira, 2, estão reunidos os principais artistas do grupo, entre eles a protagonista que criou o grupo, Dolores (Loló) Soldevilla (1901-1971), Sandu Darie, Martínez Pedro, Rafael Soriano e Pedro de Oraá.

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Da primeira edição, em 1951, até a sétima, em 1963, os cubanos participaram da Bienal de São Paulo. A de 1959, ano da revolução cubana, foi possivelmente a edição com a maior presença de artistas abstratos. Dois anos depois, em 1961, os artistas geométricos foram reduzidos a dois: Salvador Corratgé e José Mijares, ambos presentes na mostra da Dan. Os demais representantes trouxeram para a mostra paulista telas de milícias camponesas ou obras de exaltação revolucionária, segundo o curador da exposição, Osbel Soarez, que hoje mora em Madri.

Embora a curadoria da representação cubana, em 1963, fosse do escritor Alejo Carpentier, os artistas de tendência abstrata eram minoria. “Foi a última vez que Cuba participou da Bienal, pois, dessa edição em diante, os concretos cubanos não receberam nenhum tipo de apoio do governo revolucionário”, diz Soarez, que, durante dez anos, exerceu a curadoria do museu Reina Sofia, em Madri. “Ao contrário, a arte abstrata passou a ser vista como elitista, com base na retórica do crítico marxista cubano Juan Marinello, ignorando a mesma filiação ideológica de alguns dos artistas de vocação concreta do grupo fundado por Loló Soldevilla.

“Sem maiores polêmicas, a pintura geométrica da ilha praticamente desapareceu, sendo hoje um dos capítulos menos conhecidos da abstração latino-americana”, escreve Soarez em seu livro La Isla Concreta. O curador observa que a situação, hoje, é bem diferente para os artistas concretos desse período – não em Cuba, mas fora do país, com a corrida atrás das obras raras que circulam entre colecionadores e são disputadas por museus europeus e norte-americanos.

Alguns desses artistas permaneceram em Cuba mesmo depois da revolução castrista, como Loló Soldevilla – que chegou a mudar o título de uma obra concreta, de Silêncio Diagonal para Homenagem a Fidel Castro. “Loló, a alma fundadora do grupo concreto, voltou a fazer arte figurativa, ela que voltou de Paris em 1956 e organizou uma mostra nesse ano com artistas de vanguarda cubanos e europeus”, conta o curador.

Ele destaca entre os participantes da mostra La Isla Concreta o artista de origem romena Sandu Darie (1908-1991), que passou por Paris antes de se aproximar do grupo Madí (geométrico) e se fixar em Cuba, onde morreu. “Darie tem várias obras públicas em Havana e se manteve coerente e rigoroso”, observa, apontando um óleo de 1955 pintado sobre duratex.

A despeito das semelhanças de linguagem entre os concretos cubanos e os paulistas, atuantes na mesma época, o curador diz que o diálogo entre eles praticamente inexistia. Em todo caso, é possível identificar na pintura de José Mijares (1921-2004), reproduzida nesta página, uma relação muito próxima com as telas do construtivista brasileiro Arnaldo Ferrari (1906-1974). Mijares foi um dos artistas que deixaram Cuba após a revolução. Ele se estabeleceu em Miami, em 1968. Não viu a possibilidade de exercer sua atividade num país sem galerias.

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Ao contrário do concretismo brasileiro, que encontrou na fotografia experimentos radicais que dialogavam com a pintura, assim como com a arquitetura, em Cuba, essa relação praticamente foi nula. O curador cita a figura rara de Clara Porset como uma das pioneiras do desenho industrial na América Latina, que levou Albers a Havana, em 1935. “Ela foi uma espécie de Lina Bo Bardi cubana, que desenvolveu o mobiliário das obras do arquiteto Luis Barragán”, define o curador.