Todas as fotos do livro Hiléia, do veterano fotógrafo paulistano Antonio Saggese, de 66 anos, foram feitas em igarapés e igapós em suas viagens ao Pará, entre 2014 e este ano. Detalhe: com uma câmera digital infravermelha, transmitindo ao espectador, paradoxalmente, a impressão de se tratar de uma gravura ou de um bico de pena do século 19 – o que não surpreende, considerando que a radiação infravermelha foi descoberta exatamente no início desse século.
As primeiras fotografias com essa técnica foram feitas em 1930 (por Robert Wood), mas, no Brasil, só as Forças Armadas a usavam. Saggese intuiu que a paisagem amazônica conjugada com os recursos de um computador poderia resultar numa composição sutil, ainda que não naturalista, capaz de remeter à arte dos pintores viajantes como Thomas Ender, que acompanhou as expedições de Spix e Vom Martius. Mas não só.
“A foto digital trouxe a possibilidade de recuperar outras tradições que não a moderna, liberando os fotógrafos para buscar novas figurações”, avalia Saggese. Mas, no lugar de fazer uso de toda o espectro cromático oferecido pela câmara de alta resolução, o fotógrafo acabou optando pelo preto e branco. “Fiz fotos em cor e não me agradavam”, justifica, apontando o monocromatismo da floresta como uma armadilha para o olho.
O professor de Filosofia Leon Kossovitch, autor do texto de Hiléia, a esse respeito, destaca os benefícios que o infravermelho trouxe para destacar, por exemplo, uma árvore em meio a centenas delas. O resultado, observa, “é a claridade da vegetação e a obscuridade da água, efeitos não prefixados e mutáveis, a demonstrar a ausência de critérios naturalistas nas escolhas”.
HILÉIA Galeria Rabieh. Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 147, tel. 3062-7173. 2ª a 6ª, 10h/19h; sáb., 11h/17h. Até 8/12. Livro: R$ 120.