''Eu não acredito no Oscar, tudo isso é apenas um negócio''

O ator Alan Arkin, premiado em 2006 por Pequena Miss Sunshine, garante que não era o melhor coadjuvante daquele ano

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Por Franthiesco Ballerini
Atualização:

Alan Arkin vive Arnie, editor de John Grogan em Marley & Eu. Aproveitando o personagem jornalístico, ele falou ao Estado sobre o que pensa da crítica cinematográfica. Ganhador do Oscar por Pequena Miss Sunshine, aproveita para repudiar a estatueta e ataca os colegas de Hollywood que viram porta-vozes de alguma causa mundial. Apesar da tendência de atores intelectualizados como você preferirem o cinema independente, por que fazer blockbusters? O ator tem menos atenção quando faz um blockbuster, pois os produtores se preocupam mais com coisas como efeitos especiais. E aprecio isso, gosto de ficar sozinho. Passados dois anos do seu primeiro Oscar, acha que o ganhou pelo conjunto da carreira ou era seu maior trabalho? Não tenho idéia. Dizem que é por causa de minha carreira. Por outro lado, eu ganhei quatro outros prêmios pelo papel de vovô Edwin Hoover em Miss Sunshine. Não sei dizer na verdade. É verdade que você não vê prestígio em ganhar um Oscar? Não acredito no Oscar. Não acho que exista ?o melhor?. Como comparar dois grandes filmes e dizer que um é melhor que o outro? Tudo isso é negócio, não tem nada a ver com a realidade. Eu não fui o melhor ator coadjuvante daquele ano. Ninguém tem o direito de dizer quem é melhor ou pior. Nem um crítico especialista no assunto? Não estaria desacreditando esses profissionais? Eles não têm esse direito. Eles apenas apontam qual filme mais os tocou, mas não é por isso que podem dizer que foi o melhor do ano. Mas não é essa a função do crítico? Quanto mais julgamento um crítico faz, mais infeliz ele é como ser humano. A sua reação não é apenas reflexo de um desconforto dos atores de serem julgados? Eu não posso generalizar, mas os melhores críticos são aqueles que também são cineastas ou roteiristas, porque sabem quais foram os problemas do filme ou da peça. É preciso ter estado do outro lado para poder criticar. O que lhe dá notoriedade nos EUA também é sua campanha pela preservação do ambiente. Não é tarefa frustrante para quem mora num país tão poluidor e consumista? Não sou nem quero ser porta-voz de nada. Em Hollywood há muitos porta-vozes de diversas causas. Acha isso importante em se tratando de pessoas com tamanho impacto na opinião pública? Não acho. Eles não são porta-vozes de nada nem devem ser. O melhor depoimento sobre isso foi de Brad Pitt quando fez Sete Anos no Tibete. Perguntaram a ele sobre a situação política no Tibete. Ele respondeu: ?Por acaso, virei especialista no assunto do dia para a noite?? Estava certo, fez o filme para salvar a vida dele, não para salvar o mundo. Mas o próprio Brad Pitt tem engajamentos sociais. Nenhum ator tem a resposta melhor que ninguém. Tenho resposta para mim. E isso porque refleti. Na verdade, muitos nem são capazes de parar e refletir. Não porque são burros, mas porque são emocionalmente frágeis. Vocês jornalistas perguntam demais para os atores, esse é o problema. Então acredita que a insegurança emocional dos artistas os empurra para causas sociais? Acho que a maioria dos atores que viram porta-vozes de alguma causa o faz porque têm um grande vazio interno. Em outras palavras, só estão fazendo isso para evitar o suicídio. Na verdade, os atores mais criativos que conheci são criativos porque não conseguem lidar com a realidade. Mark Bauerlein, autor de The Dumbest Generation, disse que esta é a geração mais burra que já existiu porque ninguém mais lê por conta da internet. O sr. concorda? O problema não está na internet. O problema é a TV, ela destrói a capacidade de reflexão. Hoje quando se faz uma pergunta a um jovem, todos têm uma resposta, ninguém mais reflete para responder. Ninguém mais diz ?deixe-me pensar sobre isso?. Até Einstein dizia isso o tempo inteiro, e ele era razoavelmente esperto. Qual é o problema com a TV americana? Para que ter 200 canais? O pior é que todos os canais gritam alguma coisa. É tudo falsidade, são atores, não jornalistas. Para que tanta emergência? O repórter viajou a convite da distribuidora Fox Filmes

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