Elas fazem melodias para sonhar acordado

Joanna Newsom, Wendy McNeill, Juana Molina e Niobe estrelam, hoje e amanhã, o projeto Solitude, no Teatro Sesc Santana

PUBLICIDADE

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Coisas misteriosas acontecem no mundo indie. Uma das mais misteriosas é sem dúvida a californiana Joanna Newsom, cantora e harpista de 25 anos que, com apenas dois discos, conseguiu tornar-se cultuada em todos os recantos do planeta. Quer dizer, talvez nem em todos... Ela toca hoje no Sesc Santana, em São Paulo, e quase ninguém sabia disso. Já seria um espanto se apenas Joanna estivesse no cast desses shows da segunda edição do projeto Solitude, hoje e amanhã, às 21 horas. Mas também há três outras pequenas maravilhas indie no programa: a canadense Wendy McNeill, a argentina Juana Molina e a alemã Niobe. Em comum, as três demonstram um infatigável apetite por melodias etéreas, paisagens sonoras. Joanna Newsom só tem dois discos, The Milk-Eyed Mender (2004) e Ys (2006). Neste último, ela conta com arranjos orquestrais de uma lenda da música pop mundial, Van Dyke Parks, mais conhecido como ''''o homem que fez as orquestrações de Smile, o clássico álbum perdido de Brian Wilson, dos Beach Boys''''. E a produção é de Steve Albini e Jim O''''Rourke (que trabalharam com Nirvana, PJ Harvey e Sonic Youth). Freqüentemente comparada a Tori Amos, ou Cat Power, ou ainda mais a Bjõrk, ela não gosta disso. Considera Bjõrk ligada a uma noção ''''old fashion'''' de cultura. Mas e o que dizer de Joanna? Por exemplo: o título do seu disco Ys (pronuncia-se iis) é uma referência a uma ilha da mitologia bretã. Havia uma cidade na ilha, cercada por uma muralha, que teria sido engolida pelas águas e está sob o mar. Joanna é obsessiva. Para convencer Van Dyke Parks a trabalhar com ela, enviou a ele um manifesto com 30 páginas cheias de adjetivos. Sua lírica também é cheia de imagens auto-referentes. A canção Emily, por exemplo, fala de sua irmã mais nova, que é astrofísica. Não deu para falar com Joanna Newsom, mas Wendy McNeill conversou com o Estado, por telefone, do Canadá. Curiosidade: ela já veio ao Brasil, em dezembro, e visitou Recife, Curitiba e São Paulo. O motivo: estava em lua-de-mel. ''''Eu não tinha idéia de como era rica e diversificada a música no Brasil, especialmente no Recife'''', disse Wendy, que toca acordeão e canta divinamente. Ela volta ao Brasil, desta vez, sem o marido, que ficou no Canadá. O acordeão, diz, foi-lhe apresentado por um clown francês. ''''Eu não sabia como tocar, mas não tive medo de experimentar, e desde então eu o toco. Não tive lições formais'''', afirma a ex-garçonete em Edmonton, Canadá. ''''Foi trabalhando como garçonete que consegui pagar meus estudos na escola de artes.'''' Ela quase corta a pergunta ao meio quando o papo vai para o lado do grupo Dresden Dolls. ''''Em muitos países aonde vou, muita gente me compara a eles, mas não vejo muita semelhança.'''' Não seria porque ambas as músicas, a dela e a do Dresden Dolls, têm um quê de brechtianas? ''''Nunca fui do tipo de pessoa que fica tentado buscar uma associação consciente com algum tipo de antecessor musical. Apenas pego os instrumentos e vou tocando, e descobrindo. Nunca busquei que fosse associado à música de cabaré da primeira metade do século. Defino minha música como uma série de felizes acidentes.'''' Ainda assim, ela reconhece algumas grandes influências, como Steve Reich, Meredith Monk, Laurie Anderson e Tom Waits. ''''Quando me comparam a gente como Tom Waits e Ute Lemper, é claro que fico muito honrada. São artistas que admiro muito.'''' Quanto aos seus compatriotas, ela tece grandes elogios ao grupo Arcade Fire. ''''É uma excelente banda. Não conheço pessoalmente nenhum deles, mas acho que demonstram grande integridade artística e são músicos fantásticos. Espero que fiquem no cenário ainda por um bom tempo, eles merecem.'''' Profundamente desconhecida aqui, Wendy McNeill deve encantar na abertura do show de Joanna Newsom esta noite. Serviço Solitude. Sesc Santana - Teatro (349 lug.). Avenida Luiz Dumont Villares, 579, Jardim São Paulo, telefone 6971-8700. Hoje e amanhã, às 21 h. R$ 25

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.