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Dominique Gonzalez-Foerster cria espaço de imersão em mostra no Rio

Artista francesa coloca filtros vermelhos e azuis no MAM carioca em exposição que apresenta obras criadas desde a década de 1980

Por Camila Molina
Atualização:

Dominique Gonzalez-Foerster transformou o Museu de Arte Moderna do Rio em um grande “óculos 3D”, ela diz. Ao colocar filtros vermelhos e azuis no segundo andar do prédio projetado por Affonso Eduardo Reidy, clássico da arquitetura moderna brasileira, a artista francesa transporta o espectador para outro tempo em sua referência ao aparato que surgiu na década de 1950 para se ver filmes no cinema. “É como se você estivesse em uma ficção científica”, explica Dominique sobre a experiência imersiva e visual que propõe na exposição Temporama, a ser inaugurada neste sábado, 20, às 15 horas, na instituição carioca.

A artistaDominique Gonzalez-Foerster no Museu de Arte Moderna do Rio Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

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Não apenas a paisagem do lado exterior do MAM, com o Parque do Flamengo, como as obras da artista dentro do edifício (entre elas, uma inédita, de 2015), ganham vida diferente na nova atmosfera em vermelho e turquesa. Aliás, o título da mostra, primeira individual da francesa no Brasil apesar de sua proximidade com o País – desde 1998 ela se divide entre Paris e o Rio –, remete, como afirma, a uma “espécie de máquina do tempo” – e neste caso, que conecta o século 20 com o agora.

Primeiramente, a exposição é uma volta ao passado pelo fato de apresentar uma série de trabalhos criados por Dominique Gonzalez-Foerster, de 49 anos, no início de sua carreira, na década de 1980. “Por muito tempo, não pensei sobre essas obras. Mas agora é muito interessante, as vejo como o começo de tudo”, diz a artista por telefone, durante os retoques finais da montagem da mostra, que ficará em cartaz até 9 de agosto. Das mais destacadas criadoras contemporâneas, ela chega até mesmo a dizer que Temporama, com curadoria do mexicano Pablo León de la Barra, é como um “prelúdio” da grande retrospectiva que vai ser aberta em setembro no Centre Pompidou.

Obra da artista francesa imersa em ambiente vermelho Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

“Quando fiz esses trabalhos iniciais, eu não sabia muito sobre a arte brasileira. Talvez conhecesse um pouco sobre (Hélio) Oiticica e Lygia Clark, mas quando descobri mais, porque comecei a passar mais tempo aqui, me dei conta de que tenho uma conexão muito forte com essa família de artistas e seus trabalhos”, afirma. “De uma maneira estranha, senti algumas das minhas origens e influências mais fortes no Rio do que na França. Com a exposição, agora, é como conectar os pontos.”

As ligações com o Brasil, na verdade, têm sido intensas na obra da artista, cuja produção nos campos do cinema, do vídeo e da instalação é repleta de referências, citações e apropriações. “O diálogo com a arquitetura brasileira é uma pesquisa em curso”, define.

Dominique Gonzalez-Foerster, que participou da 27.ª Bienal de São Paulo (2006) com uma peça que replicava as colunas de concreto da marquise e do prédio da Bienal projetados por Oscar Niemeyer no Parque do Ibirapuera, também já criou a permanente Desert Park (2010) para o Instituto Inhotim, em Minas Gerais, além de obras relacionadas aos arquitetos Sergio Bernardes e Lina Bo Bardi e ao paisagista Roberto Burle Marx (autor do desenho que a inspirou a realizar o belo filme Plages, de 2001, sobre Copacabana). Agora, no MAM-Rio, ela transforma o projeto de Reidy, símbolo da modernidade, edifício “completamente aberto”, em uma “espécie de nave espacial com vista panorâmica”.

Vista de 'Desert Park'(2010), criado por Dominique Gonzalez-Foerster para Inhotim Foto: Daniela Paoliello/Divulgação

Mas a volta ao passado em Temporama compreende, ainda, outras camadas. Dominique retorna ao cinema e cita The Girl from Rio (1969) – um “filme B” de Jesús Franco com partes curiosamente rodadas no museu carioca – como inspiração. Até se chegar, afinal, a outra importante referência, Marilyn Monroe e, especialmente, sua cena na piscina em Something’s Got to Give (1962), última obra da atriz.

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“Marilyn é um ponto alto dos anos 60”, diz Dominique, que entrou “emocionalmente e artisticamente” na persona da americana e representou-se como ela para uma série de retratos. As fotografias de 2015 foram transformadas em silhuetas e ficam agora na mostra, instaladas ao redor de uma piscina também simulada no museu. Uma das obsessões de Dominique, ela própria afirma, é dissolver os limites entre tempo e espaço.

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