Diretor do MAC-USP, Hugo Segawa aponta desafios da instituição

O diálogo com a cidade é uma das principais metas para o museu, que vive nova realidade desde mudança para o Ibirapuera

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Por Camila Molina
Atualização:

“Para não fugir da minha seara, minha obra preferida do MAC é o prédio”, diz o arquiteto Hugo Segawa, de 58 anos, na passarela que, sobre a Avenida 23 de Maio, liga a atual sede do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo ao Parque do Ibirapuera. Desde maio de 2014, quando o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP assumiu a direção da instituição, cujo acervo é dos mais ricos da América Latina – entre cerca de 10 mil peças, destaca-se, por exemplo, o único autorretrato do pintor Amedeo Modigliani, de 1919 –, sua atuação tem sido lidar com uma “nova realidade”. Estabelecer uma relação diferente com a metrópole, fora do Campus, além de enfrentar os reflexos da crise vivida pela USP são, afinal, os maiores desafios do diretor do MAC até 2018, fim de sua gestão.

“Saímos de um edifício de 3 mil m² (na Cidade Universitária) para 30 mil m²”, afirma o arquiteto, referindo-se à área total do complexo da instituição, que tem como principal elemento o prédio de oito andares projetado na década de 1950 por Oscar Niemeyer. Entretanto, nesse processo de transição para que todas as atividades do MAC concentrem-se no novo local – faltam reparos no espaço expositivo, de 12 mil m², que começou a ser inaugurado, paulatinamente, em janeiro de 2012, e a conclusão da reserva técnica para a transferência da coleção –, o orçamento do museu, forçosamente, teve de diminuir. Como explica Segawa ao Estado, os departamentos da USP sofreram cortes de 20% a 30%, o que não foi diferente com a instituição museológica, que terá R$ 7,3 milhões para 2015. “Nossa única fonte orçamentária é a universidade”, diz.

Hugo Segawa, diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP, que fica no complexo do Parque do Ibirapuera Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

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O setor de serviços terceirizados foi o mais cortado, conta o diretor. “Apesar da redução de funcionários, temos nos desdobrado para que a segurança seja uma prioridade”, esclarece Segawa. Atualmente, lembra, 1,6 mil obras estão expostas no museu – o que representa 10% de seu acervo. Outra necessidade para proteger as peças em exibição é a instalação de detectores de metal no edifício.

A escassez de recursos do MAC também reflete-se na obra da nova reserva técnica da instituição, por ora, parcialmente instalada. “Falta averiguar as condições técnicas do que está instalado, e seu mobiliário”, afirma o professor. Segundo seus cálculos, cerca de R$ 5 milhões terão de ser destinados ao equipamento. “É fundamental terminar a reserva porque trazer as obras da cidade universitária para as exposições no Ibirapuera implica custos e seguros que obviamente são, nessa altura do campeonato, irracionais”, conclui. Como o projeto da USP é concentrar o MAC no complexo da área do parque paulistano, a transição da instituição para o local inclui desativar o edifício no Campus – e transportar as 20 esculturas de seu jardim; e a devolução do espaço do museu no pavilhão da Bienal. 

No atual cenário do MAC-USP, a busca de patrocínios externos para as atividades do museu, que tem como prioridade expor seu acervo, é também necessária. “É desejável que tenhamos interface com produtores culturais pois temos agora espaço para nos abrirmos para outras iniciativas, dentro de um espírito que caracterize o que é pesquisa, inovação”, diz Segawa. Sem recorrer ao que chama de exposições “blockbuster”, que fazem fila – “buscamos a produção de conhecimento” –, o diretor cita iniciativas já engatilhadas de intercâmbio com outras instituições, como uma mostra vinda da Itália com conjunto de obras de Nam June Paik (1932-2006), pioneiro da videoarte, prevista para setembro e a ser realizada em associação com a produtora Base 7. “É um artista que nos interessa, por sua trajetória, e seria uma exposição inédita no Brasil”. Outra atração nesse sentido está programada para 2016, o encerramento da turnê de uma grande exibição de arte contemporânea belga feita em parceria com a embaixada da Bélgica.

A interdisciplinaridade – ou seja, a vontade de promover atividades em torno de áreas como a música (vale citar nesse campo a exposição que será aberta em agosto sobre o compositor Hans-Joachim Koellreuter), a arquitetura e o design – também é importante meta. “Na minha perspectiva, o museu contemporâneo é um espaço público que dialoga com a cidade”, afirma Segawa, já comemorando o aumento gradual de visitantes do MAC, que recebeu, no ano passado, 284.312 pessoas.

ALGUNS DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO DO MUSEU:

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FOTOGRAFIA E GRAVURA: Serão inauguradas em 28/3 mostras do fotógrafo norte-americano Roger Ballen e dos gravadores Evandro Carlos Jardim e Goeldi. 

A CASA: Como parte do quadro de renovação das exposições do acervo do MAC, a instituição abre em 25/4 a coletiva A Casa, com curadoria de Katia Canton, e recebe no prédio anexo, em 28/4, a mostra da atual edição do Prêmio Marcantonio Vilaça.

AMÉRICA LATINA: Está programada para 30/5 a inauguração de grande retrospectiva de arte latino-americana com curadoria de Cristina Freire.

KOELLREUTER: Mostra sobre o compositor será aberta em 1/8.

NAM JUNE PAIK: O pioneiro da videoarte terá exposição de destaque a partir de 26/9.

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