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Chantal reacende as polêmicas

Pós-feminismo e crítica a Godard animam ciclo sobre a diretora no CCBB

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Chantal Akerman sente um clima de tempestade armando-se no ar. "Na França, isso é muito evidente", ela observa para o repórter, numa entrevista por telefone, realizada ontem, de Paris. "Há uma insatisfação muito grande em relação ao governo e as pessoas querem descontar." Chantal está comentando o velho fantasma do antissemitismo, sempre presente na França. Ela não sabe o que vem por aí, mas teme. Espera que a história - o nazismo - não se repita, mas preocupa-se. Chantal Akerman chega ao Brasil no fim de semana para dar uma palestra em São Paulo na próxima terça. Mostras no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo (a partir de hoje), do Rio (dia 10) e Brasília (dia 17) vão revelar o trabalho da diretora. Revelar é bem o termo. Embora seja autora de uma obra razoavelmente extensa, entre curtas e longas, filmes e instalações, no Brasil só estreou Um Divã em Nova York, com Juliette Binoche e William Hurt. "É meu filme mais comercial. Juliette me pediu que escrevesse uma comédia para ela e eu o fiz. Não se assemelha muito a meus outros filmes, mas gosto da elegância que consegui lhe imprimir." Descendente de judeus poloneses, sobreviventes do Holocausto, Chantal tem discutido questões da sua identidade religiosa e cultural nos filmes. "Não é correto dizer que sou orgulhosa da minha origem judaica, mas tudo o que sou, como mulher e artista, tem origem nessa evidência." Durante muito tempo, ela se indagou sobre suas origens. Agora, cansou. Talvez seja uma decorrência da instabilidade que ela identifica no momento atual. Como ela conta, não sonhava ser cineasta. Queria ser escritora. Muito jovem - nasceu em 1950 -, ela teve um choque ao assistir a Pierrot le Fou, que no Brasil se chamou O Demônio das Onze Horas, de Jean-Luc Godard, em 1965. Decidiu que queria ser diretora. Em 1968, fez o primeiro curta, Saute Ma Ville. Nascida na Bélgica, em Bruxelas, ela foi para a França e, daí, para os EUA. "A França é um país velho, burocrático. Os EUA da época eram o novo", ela explica. Existem tantas histórias sobre a jovem Chantal. Ela confirma que foi trabalhar como caixa num cinema pornô nos EUA. Admite que roubou US$ 4 mil para realizar novos curtas. De volta à França, provocou polêmica, em 1975, com Jeanne Dielman, sobre a sufocante rotina de uma dona de casa belga, interpretada por Delphine Seyrig. "O filme acaba de reestrear na América, há 15 dias. Virou um evento em Nova York. O The New York Times publicou uma extensa resenha. Jeanne Dielman não provoca mais escândalo. É reconhecido como um clássico." Como ela se sente, na pele de clássico(a) do cinema? "É estranho, não me sinto", diz. Os críticos dizem que ela é pós-moderna e pós-feminista. Chantal não tem consciência disso. "Nunca digo que vou fazer um filme feminista. Não sou tão intelectual assim. Sou instintiva. Faço." Em Lettre d?Un Cineasta, de 1984, e Chantal Akerman by Chantal Akerman, de 1996, ela se colocou em cena. "Não foi planejado, mas senti que precisava aparecer." Godard, seu ídolo inicial, hoje a desconcerta. Ela detestou Notre Musique, de 2004. Não gosta do documentário Morceaux de Conversations Avec Jean-Luc Godard, que acaba de estrear na França. "O que ele faz com a imagem de Golda Meir é épouvantable, apavorante", resume. Chantal acusa Godard de antissemitismo. Sinal dos tempos. É essa autora que você pode descobrir - e encontrar, na semana que vem. Serviço Hoje, 17h30, Chantal Akerman por Chantal Akerman; 19h30, Do Leste. CCBB. R. Álvares Penteado, 112, tels. 3113-3651/3652

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