Arctic Monkeys têm Inglaterra e o mundo a seus pés

Brasil vai ter a chance de ver ao vivo, em outubro, a banda sensação do rock, liderada pelo monossilábico Alex Turner

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Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Alex Turner fala muito pouco, quase sempre em monossílabos. Engraçado pensar que ele foi eleito pela publicação musical inglesa NME como ''''o homem mais cool do planeta''''. Parece mais uma mistura do ratinho do filme Ratatouille com o ator brasileiro Kayky Brito. Ainda com muitas espinhas no rosto, muito magrinho, olha os interlocutores com a cabeça meio baixa, ar de espanto com toda a badalação à sua volta. Tem apenas 21 anos, e sua voz sugere que ainda não trocou completamente de registro vocal, tem aquela estridência típica dos adolescentes quando ameaçam virar homem. Certamente, na escola em Sheffield, ou no primeiro ano de faculdade que ele largou em Barnsley, na Inglaterra, ele seria a última opção das garotas para um namoro. Mas agora, Alex Turner e seus colegas de banda - o baterista Matt Helders, o baixista Nick O''''Malley e o guitarrista Jamie Cook - não dão conta de desviar das meninas que os querem. Eles são os Arctic Monkeys, e estão no topo do rock - ganharam o Mercury Prize, três Brits Awards, e fizeram o mundo com apenas dois discos, o primeiro um fenômeno incendiário na internet, o álbum Whatever People Say I Am, That''''s What I''''m Not. A Inglaterra vive uma monekymania: como compositor, Turner chegou a ser comparado a Morrissey e Paul Weller. A idade média da banda é de 20 anos. Mas impressiona a desenvoltura com que lidam com a nova situação. Não usam roupas extravagantes - são jeans e camisetas que se acham nos balcões de liquidação de qualquer loja de departamentos. ''''Não imaginávamos que tocaríamos para mais gente do que para nossos amigos, em um pub, quando começamos'''', disse Alex Turner, em entrevista ao Estado, na semana passada, por telefone. Filho único de Penny e David Turner, professores de música e de alemão, ele ganhou sua primeira guitarra em 2001. Este ano, ao completar 21 anos, celebrou em casa - os convidados eram os colegas da banda e os pais, que serviram bolo e chá aos meninos. O Estado assistiu ao show dos Arctic Monkeys no Festival de Roskilde, na Dinamarca, em julho. Pouco antes do seu show, Turner dava entrevista à MTV local no meio dos trailers do festival, os curiosos sendo advertidos que era melhor não tirar fotos. ''''Sim, às vezes'''', ele responde, quando perguntado se a fama - tão rápida e tão avassaladora - não o deixa perturbado. ''''Tento ignorar a badalação, e procuro apenas fazer o melhor, tocar da melhor maneira possível'''', afirma. ''''A fama é boa por dar a oportunidade de ir a lugares onde a gente nem imaginava que iria'''', diz o hiperativo baterista da banda, Matt Helders. ''''Não sei quanto dinheiro ganhamos. Apenas nos divertimos tocando, não temos preocupação com dinheiro e coisas desse tipo'''', diz Helders, que conheceu seu parceiro Turner quando tinha apenas 12 anos, na Stocksbridge High School em Sheffield. Para Turner, segundo afirmou, a melhor coisa de estar em uma banda de rock bem-sucedida é que ele não precisa encarar mais o que chama de ''''responsabilidades dos adultos.'''' O show dos Arctic Monkeys, como os paulistanos verão no dia 28 de outubro, no TIM Festival, no Anhembi, é rock sem frescura, com uma pegada irresistível. Quase não há baladas - uma das poucas é Mardy Bum, do primeiro disco, e não chega a ser exatamente uma baladinha. É uma catarata de hits com uma cozinha perfeita, uma pulsão de baixo e bateria (Turner também não é um guitarrista desprezível) que não deixa os moleques quietos, de Fake Tales of San Francisco até I Bet You Look Good on the Dancefloor. O Arctic Monkeys assimilou bem as primeiras lições de fusão com a batida do reggae, que contaminou o rock inglês desde Gang of Four e The Clash, lição que já foi muito bem dedilhadinha pelos Libertines e pelo Babyshambles. ''''Ouvi Gang of Four e Clash, mas não massivamente'''', diz Turner. Oasis e The Vines, bandas mais contemporâneas, foram muito mais influentes. Na semana passada, no dia anterior à entrevista, ele tinha realizado um sonho pessoal: em Houston (Texas), o Arctic Monkeys, de surpresa, substituiu as bandas que abriam os shows do Queens of The Stone Age, Howlin''''Blue e Dax Riggs, no Verizon Wireless Theatre. Queens of The Stone Age são heróis dos Arctic Monkeys. ''''Foi fantástico!'''', comemora Turner, parecendo um legítimo tiete. O líder do Queens, Josh Homme, não foi menos entusiasmado. ''''Ouvi-los tocar foi a melhor coisa da noite. Eles são uma grande banda ao vivo, como se fossem uma primavera concentrada, sabe como é? Nem enchi a cara, estava muito ocupado ouvindo-os tocar'''', disse Homme. Os Monkeys falam pouco e tocam muito. Quando Turner faz um gesto com a mão para o alto, e a platéia o imita, ele olha para o baixista e ri atônito, como se não acreditasse no súbito poder de seu rock''''n''''roll. São garotos, mas não tolos: recusaram-se a participar do Live Earth. Não porque achassem que não é uma boa causa, mas porque não querem parecer arrogantes de chamar para si a responsabilidade de curar os males da humanidade. Em Roskilde, Dinamarca, o Arctic Monkeys fez um show de grande vitalidade e honestidade, mostrando que o novo álbum do grupo, Favourite Worst Nightmare (mais de 200 mil cópias vendidas na Inglaterra, fenômeno para o momento) também tem grandes ''''ganchos'''' musicais para arrastar multidões.

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