Aracy Amaral ganha exposição em São Paulo

Mostra revisita os momentos mais importantes da crítica e curadora

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Por Ubiratan Brasil
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O trabalho da crítica e curadora Aracy Amaral se confunde com momentos fundamentais da história da arte brasileira. Aos 87 anos, a irmã da cineasta Suzana Amaral e a sobrinha-neta da pintora Tarsila do Amaral apontou importantes caminhos das artes plásticas, especialmente em suas pesquisas sobre o modernismo nacional. É esse trabalho, realizado quase sempre longe de holofotes, que inspira a 35.ª mostra da série Ocupação que o Instituto Itaú dedica a personalidades destacadas. Assim, a Ocupação Aracy Amaral começa neste sábado, 22, na sede da entidade, na Avenida Paulista.

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A exposição conta com documentos históricos e entrevistas, que se distribuem nos eixos Jornalismo e Crítica, Gestão, Curadoria e Pesquisa. Afinal, Aracy foi diretora da Pinacoteca do Estado de São Paulo (1976 a 1979) e do Museu de Arte Contemporânea da USP (1982 a 1985). Como curadora, atividade que lhe dá prazer, ela tanto investigou artistas do período modernista como avaliou a arte contemporânea produzida no País nos últimos anos. Mesmo com tamanha bagagem, Aracy revela o temperamento de quem não gosta de estar no foco da atenção. “Não sei por que tudo isso”, disse ela, em conversa com o Estado.

Aracy é uma mulher reservada, mas firme em suas opiniões. Questionada se a internet e a cultura digital orientam, de uma certa forma, o trabalho dos novos artistas, ela é incisiva: “Artistas hoje são mais editores que criadores. Eles se apropriam de imagens de televisão, histórias em quadrinhos, de pequenos desenhos que saem nos meios de comunicação de massa, de celulares e editam formas. É raro ver um artista criativo. Quando acompanhamos o trabalho de alguns, como José Damasceno e Cildo Meireles, a gente se surpreende. Mas são artistas que se destacam na planície.”

Em casa. 'Feiras de arte são mais importantes hoje que a Bienal', diz Aracy Foto: Antonio Seiti

A fala é determinada, convicta. O pensamento é claro e coerente. Aracy é jornalista de formação e, fã de pesquisas, publicou inúmeros livros e catálogos, que se tornaram leitura obrigatória para especialistas. “Sou uma pesquisadora apaixonada”, confessa. É daí que vem a segurança para formular outra visão crítica: “Os pesquisadores da história da arte hoje só buscam informações na internet - ninguém lê mais quase nada. Aqui no Brasil, o último que escreveu parece ser o único a ter escrito, pois, basta dar uma olhada na bibliografia de trabalhos recentes e só encontraremos referências a trabalhos de 2010, 2011. Ninguém olha para trás, não se buscam referências na pesquisa de Mário da Silva Brito sobre modernismo, por exemplo.”

Aracy Amaral está convencida também da importância das feiras de arte e da constante movimentação do mercado. “As feiras são mais importantes hoje que a Bienal de São Paulo, do ponto de vista de movimentação da cidade. Há mais pessoas visitando as feiras que a Bienal, e isso também reflete no mercado. Aliás, os artistas atuais trabalham muito mais por encomenda do que os de outras épocas, quando você encontrava as obras nas casas de cada um”, comenta. E o interesse do mercado pelo concretismo explica, por exemplo, o interesse crescente pela obra de Hélio Oiticica. “Era um pensador incansável."Obra 'Hispanidade em São Paulo' ganha reedição A incansável curiosidade fez com que Aracy Amaral viajasse, em suas férias, para diversos países sul-americanos, nos anos 1970. O que ela buscava era encontrar as evidências da influência espanhola na arte e, principalmente, na arquitetura de cidades paulistas. O resultado foi o livro A Hispanidade em São Paulo, obra hoje clássica, mas esgotada e que ganha finalmente uma reedição, com o apoio do Itaú Cultural.

O ponto de partida foram os estudos realizados por Mário de Andrade, nos anos 1920, e Luis Sala, nos 1940, sobre as construções paulistas. “Havia uma tese que dizia ser São Paulo um núcleo isolado, sem ligações com outras culturas”, conta Aracy. “Mas, durante minha pesquisa, notei que não era tão isolado, pois havia um contexto entre o Paraguai, a Bolívia e outros países com a arquitetura de casas que então eram zona rural de São Paulo, como Butantã, Barueri, Cotia, São Roque, Caxingui.” 

A reedição estimulou Aracy a obter fotografias melhores do que as que capturou nos anos 1970. “Eu era professora da FAU-USP, mas, como não era arquiteta de formação, tive de pesquisar em minhas férias”, lembra.OCUPAÇÃO ARACY AMARAL  Itaú Cultural. Av. Paulista, 149, 2168-1776. 3ª a 6ª, 9h/ 20h; sáb., dom. e feriados, 11h/ 20h. Grátis. Até 27/8. Abertura sábado, 14h. 

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