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Adeus a Bergman

Um dos últimos mestres do cinema, autor de 54 filmes, diretor sueco morreu ontem de madrugada, aos 89 anos, na sua casa na ilha de Faro

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Há 25 anos, após concluir um dos monumentos da sua grande arte - Fanny e Alexander -, Ingmar Bergman anunciou que estava parando com o cinema. Iria recolher-se, em definitivo, à sua casa na Ilha de Faro para escrever, refletir. Cinema, nunca mais. Teatro, talvez. No quarto de século decorrido desde então, Bergman quebrou muitas vezes a própria escrita. Escreveu roteiros que foram filmados por outros diretores (Bille August, Liv Ullman, seu filho Daniel) e alguns ele próprio realizou, para TV. Agora, é definitivo. Bergman, nunca mais. Ele morreu ontem, na Ilha de Faro, aos 89 anos. Conta a lenda que, no enterro de Ernst Lubitsch, o mestre do humor sofisticado, encontraram-se dois grandes cineastas, Billy Wilder e William Wyler. O segundo observou com tristeza - ''''Nunca mais, Lubitsch.'''' O primeiro retrucou - ''''Pior; nunca mais novos filmes de Lubitsch.'''' O sentimento é o mesmo diante da morte de Bergman. Talvez ele tenha deixado mais alguns roteiros que ainda poderão vir a ser filmados, mas não serão filmados pelo próprio Bergman. E isso faz toda a diferença. Três vezes vencedor do Oscar da academia de Hollywood, Bergman recebeu a estatueta destinada ao melhor filme estrangeiro por A Fonte da Donzela, em 1959; por Através de Um Espelho, em 1960; e por Fanny e Alexander, em 1983. Este último também recebeu os prêmios de fotografia, direção de arte e figurinos. Você pode dizer que Bergman foi suficientemente contemplado, até por Hollywood, que faz um cinema tão diferente do dele. Estará mentindo. Seus maiores filmes - Noites de Circo, de 1953; O Sétimo Selo, de 1956; Morangos Silvestres, de 1957; O Rosto, de 1958; O Silêncio, de 1962; Persona (Quando Duas Mulheres Pecam), de 1966; Gritos e Sussurros, de 1972; A Flauta Mágica, de 1975 - foram ignorados no Oscar. Bergman havia sido ignorado até por Cannes. O maior festival de cinema do mundo dera, ao grande diretor, somente um prêmio menor, o de melhor filme de humor ''''poético'''', para Sorrisos de Uma Noite de Amor, em 1956. Quase 40 anos mais tarde, exatamente em 1995, quando se comemorava o centenário do cinema, Cannes fez uma enquete entre todos os vencedores da Palma de Ouro e lhes perguntou quem, na opinião deles, havia sido injustiçado no prêmio? Deu Ingmar Bergman na cabeça e ele recebeu a Palma das Palmas, a maior honraria da história do festival. Bergman já vivia isolado em Faro. Não pisou no tapete vermelho de Cannes. Sua ex-mulher, atriz de grandes filmes e diretora de roteiros por ele escritos, Liv Ullman, vestiu-se de gala para a grande ocasião.

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