'A Ronda Noturna' de Rembrandt passará por restauração que levará anos

Ao longo de todo o processo, uma vitrine transparente será construída para abrigar a pintura, os cientistas e os restauradores, permitindo que os visitantes possam ver o progresso

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Por Nina Siegal
Atualização:
A restauração da obra deve durardois anos, segundo o diretor do museu Foto: Olaf Kraak/EFE

Amsterdã

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O Rijksmuseum anunciou nessa terça-feira, 16, que vai restaurar a  A Ronda Noturna, de Rembrandt, o monumental retrato de grupo que ocupa lugar de destaque no museu nacional da Holanda e no coração do povo holandês. A restauração durará vários anos, e a pintura permanecerá em exposição na Galeria de Honra do museu para que o público possa acompanhar o processo. Taco Dibbits, diretor do museu, disse em uma entrevista que este será um "imenso empreendimento” e o “maior projeto de conservação e pesquisa de todos os tempos” do Rijksmuseum. Ele o comparou em escala à restauração dos afrescos da Capela Sistina de Michelangelo, no Vaticano. O diretor não forneceu uma estimativa do custo da renovação, mas disse que chegaria a “milhões ao longo de pelo menos vários anos”.

A pintura de 1642 de Rembrandt, formalmente conhecida como “A Companhia de Milícia do Distrito II sob o Comando do Capitão Frans Banninck Cocq”, não é restaurada desde 1976, depois que um visitante do museu a atacou com uma faca de pão e deixou marcas de 60 cm de comprimento na superfície – cortando um buraco de mais de 2 metros de largura, arrancando uma parte da tela.

Naquela época, o museu conseguiu restaurar a pintura e retocar a superfície, mas alguns dos retoques ficaram amarelados, disse Dibbits, e precisam ser refeitos. Os conservadores do museu também notaram que o canto inferior esquerdo da pintura, onde há um pequeno cão, ficou esbranquiçado com o tempo, e eles não sabem por quê.

O Rijksmuseum planeja primeiro estudar a pintura por cerca de oito meses, usando novas tecnologias de escaneamento que não estavam disponíveis durante restaurações anteriores, como escaneamento por fluorescência de raios-X, que pode explorar diferentes camadas da superfície da tinta para determinar o que precisa ser feito.

A restauração em si provavelmente levará pelo menos dois anos, disse Dibbits. Ao longo de todo o processo, uma vitrine transparente será construída para abrigar a pintura, os cientistas e os restauradores, permitindo que os visitantes possam ver o progresso.

Dibbits lembrou-se de ter assistido à restauração anterior da Ronda Noturna quando ele era criança, em Amsterdã. “Eu tinha 9 anos e toda a família foi várias vezes para ver”, disse ele. “É muito impressionante porque você pode ver o processo e você está basicamente no teatro de operações.”

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Quando estiver concluída, a Dibbits espera que a investigação e a restauração forneçam aos estudiosos mais informações sobre o trabalho e ofereçam aos visitantes uma ideia mais clara da pintura original. “Visualmente, será uma grande mudança”, disse Dibbits. “Será possível enxergar muito mais detalhes, e haverá áreas da pintura que serão muito mais fáceis de ver”.

“Há muitos mistérios da pintura que poderemos resolver”, acrescentou. “Na verdade, não sabemos muito sobre como Rembrandt a pintou. Com a última conservação, as técnicas foram limitadas basicamente a fotos de raios X, e agora temos muito mais ferramentas. Poderemos olhar para dentro da mente criativa de um dos artistas mais brilhantes do mundo”.

Tradução de Claudia Bozzo

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