Para quem gosta de política, a série Marseille, a primeira produção original do Netflix na França, é a melhor produto disponível no serviço de TV por Internet desde a estreia de House of Cards 3. Para quem gosta de novela, também.
Estão lá todos os elementos que transformaram a trajetória de Frank Underwood em sucesso de crítica e público. Os diálogos são ágeis e as articulações verossímeis. O personagem central, o prefeito de Marseille, Robert Taro, interpretado por um inspiradíssimo Gérard Depardieu, é implacável e carismático.
Há uma boa interlocução entre jornalismo e política, muitos esqueletos guardados no armário e um objetivo claro no horizonte, o poder. Em um determinado momento, porém, Marseille entra em clima de novelão da Globo.
O bem e o mal ganham contornos claros, e isso não é ruim.
Romance proibido entre a moça rica e moço da periferia que flerta com a bandidagem, filha em busca da verdade, passado mal resolvido e a tradicional batalha épica por vingança. Está tudo lá.
A série tira o melhor das duas fórmulas. A trama tem começo, meio e fim. Pode ser que haja uma segunda temporada, mas a primeira não deixa pontas soltas. Ou seja: não há gordura.
Todo esse cardápio é embalado por cenas deslumbrantes da cidade portuária francesa que dá nome a série. Marseille é na verdade a personagem principal.
A peça de resistência do roteiro é uma traição. Após governar Marseille por 20 anos, Robert Taro quer se aposentar e fazer do afilhado político seu sucessor. Mas a criatura se rebela contra o criador de forma abrupta.
Marseille é uma daquelas séries que deve ser saboreada de uma só vez.