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Partituras sem contratempos

Marsha Albert, a 'Paciente X' da epidemia Beatle nos Estados Unidos. Mas há controvérsias.

Na última semana, Paul McCartney e Ringo Starr participaram na Inglaterra e nos Estados Unidos do lançamento do documentário Eight Days A Week e involuntariamente reavivaram a discussão sobre o "Paciente X", a pessoa responsável pela disseminação da beatlemania nos EUA. A evidência mais forte aponta para Marsha Albert, que, em dezembro de1963, aos 15 anos, teria conseguido o disco 'I Wanna Hold Your Hand' e promovido sua divulgação junto ao DJ Carrol James, da rádio WWDC, em Washington. Outros apontam para Marcia Raubach, que seis meses antes teria tocado 'From Me To You', DJ da rádio WFRX-AM, em Frankfurt, Illinois. Tinha início uma doce epidemia. Sem cura.

Por Carlos de Oliveira
Atualização:

Toda epidemia tem um ponto de partida. Por isso, o principal objetivo dos cientistas é descobrir o indivíduo que deu origem ao surto, identificar o 'Paciente X'. Já vai longe o dia 17 de dezembro de 1963, data em que, pela primeira vez, um disco dos Beatles foi tocado numa rádio dos Estados Unidos, um evento tão marcante quanto a primeira apresentação da banda na TV americana, durante o Ed Sullivan Show, em 9 de fevereiro de 1964.

Marsha Albert e o DJ Carrol James em foto da década de 80: credita-se a ela o início da beatlemania nos Estados Unidos, em 1963.  Foto: Estadão

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Sintomas - Os primeiros sintomas da epidemia apareceram no dia 10 de dezembro de 1963 (*), quando os quatro rapazes ingleses com cabelos engraçados para a época apareceram em um rápido destaque no CBS Evening News. Numa acanhada Silver Spring, no estado de Maryland, na Costa Leste dos EUA, a jovem Marsha Albert, de 15 anos, estava de olho na TV e pôde ouvir alguns trechos de uma música intrigante que repetia "I wanna hold your hand".

Ouça os Beatles em I Wanna Hold Your Hand, ao vivo, no Ed Sullivan Show, no dia 9 de fevereiro de 1964:

Intrigada com a figura dos quatro jovens, com o nome da banda e com a música meio hipnótica,Marsha lembrou da amiga que trabalhava como comissária de bordo da British Airways e fez-lhe um pedido: trazer de Londres o tal disco dos tais Beatles. Seu pedido foi atendido, mas algo deixava Marsha cada vez mais intrigada: as rádios americanas pareciam desconhecer ou ignorar o quarteto inglês.

Carta - Já contaminada pelo vírus do que viria a ser identificado mais tarde como beatlemania, uma perigosa e incurável epidemia, a menina decidiu escrever uma carta para Carrol James, um dos mais populares DJs de Washington e perguntar: "Por que não podemos ter músicas como esta na América"?

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O DJ Carrol James, da rede WWDC, com os Beatles durante a visita da banda aos EUA, em 1964.  Foto: Estadão

Sensibilizado com a atitude de Marsha, Carrol James convidou a menina de Maryland para participar de seu programa na rede WWDC e, claro, a levar seu disco dos Beatles com ela. No estúdio, em frente ao microfone, naquele 17 de dezembro de 1963, ela disse: "Senhoras e senhores, pela primeira vez nos Estados Unidos, aqui estão os Beatles cantando I Wanna Hold Your Hand".

O vinil de 45 rotações com as músicas "I Want To Hold Your Hand" e I Saw Her Standing There", lançado às pressas nos Estados Unidos, em 1963.  Foto: Estadão

Avalanche - Feito o anúncio, a própria Marsha desceu a agulha do toca-discos sobre os sulcos do vinil. Minutos depois, a estação de rádio foi inundada por pedidos não apenas de ouvintes da cidade de Washington, mas de outras partes do país, o que levou a Capitol Records, a gravadora americana dos Beatles, a apressar-se e lançar a disco bem antes do previsto.

Pontapé - Muitos anos depois, bem depois até mesmo da separação dos Beatles, o historiador inglês Martin Lewis, especializado na banda de Liverpool, disse que de um jeito ou de outro, com ou sem Marsha Albert, a beatlemania teria contaminado os Estados Unidos.

Cerca de 10 mil jovens receberam os Beatles no aeroporto John Kennedy, em Nova York, em fevereiro de 1964.  Foto: Estadão

"Porém, a velocidade e a magnitude do estratosférico pontapé de saída dado por Marsha Albert foi fundamental. Se o disco 'I Wanna Hold Your Hand' tivesse sido lançado em 13 de janeiro de 1964, como inicialmente estava previsto, garotos e garotas não iriam pedir para ouvir a música 20 vezes por dia, como aconteceu durante as férias escolares de 1963. Nunca os Beatles teriam vendido um milhão de cópias em apenas três semanas e dez mil fãs não teriam invadido o Aeroporto John Fitzgerald Kennedy para recepcionar a banda em sua primeira visita à América".

Controvérsia - Este texto já estaria caminhando tranquilamente para seu fim, não fosse a controvérsia levantada nos Estados Unidos, onde o pioneirismo de Marsha Albert não é uma unanimidade. Há quem sustente que a "Paciente X" da beatlemania na América é outra garota, Marcia Raubach, uma DJ que trabalhava na WFRX-AM, em Frankfurt, no estado de Illinois. E dão detalhes.

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Em junho de 1963 (portanto meio ano antes de Carrol James e da rádio WWDC), Marcia tocou em seu programa o disco "From Me To You", que o beatle George Harrison havia enviado para sua irmã Louise. Anos antes, ela havia deixado sua Liverpool natal para viver em Benton, Illinois.

Ouça "From Me To You", disco que George Harrison teria mandado para sua irmã Louise, que morava nos Estados Unidos:

Sem cura - A ideia de George era tentar divulgar os Beatles com a ajuda da irmã, o que de certa forma conseguiu. Vale registrar que antes mesmo da primeira visita da banda aos EUA, George e seu irmão Peter estiveram em Illinois para visitar Louise. Depois disso, com Marcia Raubach ou com Marsha Albert,a beatlemania disseminou-se, tornando-se, felizmente, uma epidemia. Sem cura.

(*) Pouco menos de um mês antes do 19 de dezembro, exatamente no dia 21 de novembro de 1963, a mesma CBS apresentou o que é considerada a primeira grande reportagem sobre os Beatles nos Estados Unidos. O termo beatlemania já era utilizado e a banda era apresentada como um "fenômeno britânico". As filmagens dos Beatles em concerto foram feitas no Winter Gardens Theatre, Bournemouth, no dia 16 de novembro de 1963, e levadas ao ar nos Estados Unidos quatro dias depois. As imagens não são de boa qualidade, mas representam um documento valioso.

Vejam a reportagem:

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