Talvez não fique bem chamá-la de gigante, de peso pesado do blues. Pode soar como ironia ou até como uma frase de mau gosto. Seja com for, Joanna Connor está longe de ser uma mulher esguia, mignon. Ela até já foi. Hoje, da generosa circunferência de seus quadris pende uma guitarra Gibson Les Paul endemoniada. É nesse momento que ela se revela enorme, tocando um misto de melancolia e fúria (mais fúria do que melancolia), quase uma tormenta, um furacão.
Ela mesma - Mas que ninguém espere dela o blues tradicional, temas sobre amores perdidos, a tristeza constante, o fraseado ortodoxo, os doze compassos. Nascida no Brooklyn em 1962, Joanna deixa claro que é uma mulher de seu tempo. "Nasci em 1962 e quando eu escrevo, quando eu toco, tento ser fiel a mim mesma em primeiro lugar. A tradição está lá, mas ela é ampliada pela minha própria experiência", afirma, ao resumir seu estilo.
Essa leitura do blues a partir dela mesma, de seus pontos de vista, pode não agradar a todos e incomoda os puristas. Tanto que eles a rotulam de artista de rock em pele de blueswoman. Joanna refuta o argumento e propõe um desafio: "Vamos dar uma olhada no jazz. Você diria que, se não for Louis Armstrong, não é jazz? Se não for Chuck Berry, não é o rock? Eles são as raízes. Nós somos os ramos e as folhas."
Estilo único - É verdade que Joanna mistura ritmos. Toca blues com levadas funky e usa o slide com o som sujo das distorções, o que dá a sua música uma aparência de puro rock-músculo. Melhor do que mil palavras, só mesmo um vídeo para se ter uma ideia de sua energia. Vejam sua versão para Walkin' Blues, composta por Robert Johnson, em 1936.
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Antes de se mudar para Chicago, em 1984, Joanna tocou por um bom tempo na cena do blues da Nova Inglaterra, que, certamente, não é a região mais bluseira dos Estados Unidos. Mesmo assim, passou por um fecundo período de aprendizagem, tocando em bandas locais, às quais até hoje é agradecida. Seu objetivo, porém, era o Chicago Blues, eletrificado, mais pesado, com nomes sagrados como os de Otis Rush e Buddy Guy. Aliás, foi vendo um show de Guy que Joanna decidiu mudar-se de vez para Chicago e tocar blues nos locais onde ele deve ser tocado, nos pequenos clubes que caracterizam a cidade.
De Cream a Hendrix - Bluseira ou roqueira, pouco importa. Joanna Connor reconhece suas influências e não nega que seus licks de guitarra estão mais para The Allman Brothers e que sua interpretação tem um qualquer coisa de Cream. Geralmente comparada a Bonnie Raitt, ambas, na verdade, são de gerações e estilos distintos. Bonnie nasceu em 1949 e, além do blues, tem em sua música o viés do country, o que a difere de Joanna.
Feliz - Se foi vista com certa desconfiança pelos donos de clubes, "que só queriam "Sweet Home, Chicago" e The Sky Is Crying", hoje Joanna Connor se diz feliz por ter encontrado sua própria linguagem no blues. "Há uma grande competição e isso é bom. A competição nos mantém sobre nossos pés."
Assim sendo, nada a impede de, por exemplo, reinterpretar Litlle Wing , de Jimi Hendrix, sem medo, mantendo sua personalidade. Vejam:
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Joanna Connor tem oito álbuns gravados, o primeiro foi lançado em 1989 e intitula-se Belive It. O mais recente, de 2002, chama-se Joanna Connor Band.