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Partituras sem contratempos

Entre dor e saudade, um feliz centenário para Billie Holiday.

No próximo dia 7 a mundo do jazz e do blues vai comemorar com música e homenagens os 100 anos de nascimento de Billie Holiday, uma das maiores cantoras norte-americanas de todos os tempos. Billie teve vida curta, apenas 44 anos, e foi vítima do abuso sexual quando criança. Foi prostituta e recebeu voz de prisão em seu leito de morte. É a voz mais marcante do jazz e referência das gerações mais novas. O Apollo Teather, em Nova York, já programou uma noite de tributo. A Sony lançará álbum especial com vinte canções que marcaram sua carreira.

Por Carlos de Oliveira
Atualização:

Ela cantava o jazz com a dor do blues. Não era para menos. Desde sempre, sua vida foi um drama, uma história com começo, meio e fim tristes. Talvez esse tenha sido o tempero que deu a ela aquela voz pequena, aparentemente dissimulada, um misto de dor e pouco caso, quase um gemido. Por trás disso tudo havia uma mulher que lutou. Mais do que isso, brigou. Não para viver. Para sobreviver. Conseguiu, mas pagou caro. Álcool, droga, morte. Só não caiu no esquecimento. É por isso que, agora, o mundo do jazz e do blues lhe prepara uma grande festa. No próximo dia 7 muita música vai comemorar os 100 anos de Billie Holiday.

Billie Holiday: centenário de 'Lady Day' será comemorado com evento especial no Apollo Theater. Foto: Estadão

Cassandra Wilson: homenagem no Apollo Theater no dia 7 de abril. Foto: Estadão

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Calçada da Fama - Uma das homenagens mais tocantes está marcada para acontecer no Apollo Theater, no Harlem, em Nova York, o mais sagrado templo da música negra, onde Billie cantou várias dezenas de vezes. Agora, no dia 7, Lady Day voltará na voz de Cassandra Wilson e passará a integrar a Apollo Walk of Fame.

Uma placa com seu nome será colocada sob a marquise dessa lendária casa de espetáculos e ficará ao lado de astros como Ella Fitzgerald, Gladys Knight, Little Richard, James Brown, Smokey Robinson, Patti LaBelle, Quincy Jones, Aretha Franklin, Michael Jackson, Stevie Wonder, Lionel Richie, Etta James, Chaka Khan, Chuck Jackson, Celia Cruz, The Isley Brothers e Louis Armstrong.

Ouça Billie Holiday cantando My Man:

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Ouça Billie cantando Fine and Mellow, com solos de sax tenor de Ben Webster e Lester Young, e de trompete, por Roy Eldridge:

Revolução - Nada mais merecido. A inusitada abordagem vocal de Billie, nascida Eleanora Fagan Gough, na Filadélfia, em 1915, revolucionou a maneira de cantar o jazz e influenciou uma geração de cantoras ao longo do século passado. Ao se libertar de uma leitura padrão do gênero, ela transformou o jazz cantado.

Sua abordagem era uma espécie de lamento, mais compatível com a tessitura dos instrumentos de sopro do que com a voz humana. Consciente dessa condição, Billie disse uma vez: "Não acho que eu esteja cantando. Sinto que estou tocando um sax ou algo assim. O que sai de mim é o que eu sinto".

Álbum em pré-venda: tributo a Billie. Foto: Estadão

Álbum - De fato, muitas de suas composições são o retrato de sua vida. Uma, particularmente, é uma peça tocante sobre a injustiça racial que dominava o cenário americano da época e cujos reflexos podem ser vistos até hoje: Strange Fruit. Para recordar essa e outrascanções por ela interpretadas, a Sony lança no próximo dia 31 o álbum  Billie Holiday: The Collection Centennial, com vinte músicas que, de alguma maneira, resumem a curta carreira da artista.

Integram o álbum, já em pré-venda (US$ 9,98 na Amazon, sem o frete): What a Little Moonlight Can Do, These Foolish Things, Summertime,Billie's Blues, I've Got My Love To Keep Me Warm, Why Was I Born?, I Must Have That Man, I'll Get By (As Long As I Have You),  Mean To Me, When a Woman Loves a Man, You Go To My Head, The Very Thought of You, I Can't Get Started, Them There Eyes, All of Me, God Bless the Child, Gloomy Sunday, Strange Fruit, Fine And MellowLover Man (Oh, Where Can You Be).

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Billie Holiday aos dois anos: infância pobre da Filadélfia e em Nova York. Foto: Estadão

Vida dura - Nascida pobre, aos 10 anos foi estuprada por um vizinho. Mais tarde prostituiu-se. Já em Nova York, a jovem faminta e ameaçada de despejo que um dia se ofereceu para dançar numa espelunca do Harlem encheu de pena o coração do pianista.

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Bailarina ela não seria. Não levava o menor jeito. Mas talvez pudesse cantar. Saiu do bar com um emprego fixo. Com o tempo, cantou com big bands como as de Benny Goodman, Artie Shaw, Count Basie, Duke Ellington, Teddy Wilson e com Louis Armstrong. Do saxofonista Lester Young ganhou o apelido de Lady Day.

O fim - Conheceu o sucesso, mas sucumbiu ao álcool e às drogas. A cirrose destruiu seu fígado e problemas cardíacos levaram-na ao hospital em 1959. Em seu leito de morte recebeu voz de prisão por posse de drogas. Seu quarto foi invadido pela polícia, que lá montou guarda até o dia 17 de julho daquele ano, quando ela morreu.

Os infortúnios de Billie Holiday são, hoje, combustível para os amantes do jazz e para quem se emociona com o som de uma voz que, além de cantar, recita, rouca e mansamente, a realidade como muitas vezes ela é.

 

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