Colette diz: "Não me interesso pela morte, sobretudo a minha".
Marina diz: "Para mim, a morte faz parte de todos os minutos da minha vida (...)".
Eu digo: "Só me interesso pela morte de quem eu não gostaria que me deixasse, inclusive todos os seres humanos."
De nós três, a única preocupada com o seu desaparecimento e posteridade é Marina, que encenou a própria morte, participando, como protagonista em The Life and Death of Marina Abramovi?, ópera criada junto com Bob Wilson, em 2011. Este projeto biográfico nasceu quando, um dia, a atrevida artista sérvia foi pedir para que, nada mais nada menos, Robert Wilson filmasse os seus funerais.
Quem sofre de amor pela própria imagem póstuma é...
O cotejo entre nós três, e o fato de conhecer bem a performer que convidei, junto com Ulay, para a 18a Bienal de São Paulo, em 1985, me inspirou a palavra em um clique. "Necronarcisista"! Termo este que deveria constar em dicionário como "que ou quem sofre de amor pela própria imagem póstuma". E que só criei porque o "necronarcisismo", que também poderia nascer de algum "transtorno de personalidade narcisista", não se aplica à Colette, nem a mim.
Até a próxima, que agora é hoje - as árvores sazonais trocam de folhas para se preparar à chegada do inverno, os dias ficam mais curtos, as noites mais longas, a temperatura começa a esfriar - e o clima torna-se ameno. Melhor pensar no outono austral do que no outono da vida... Feliz equinócio de março!