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Histórias e ficções

'Logan', 'Star Wars' e o futuro da cultura pop

Cansados e decadentes, os velhos heróis de ‘X-Men’ e ‘Stars Wars’ embarcam numa última jornada: precisam guiar a próxima geração, fazê-la acreditar nos seus ideais — e, de quebra, torná-la protagonista da franquia por mais umas boas décadas

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Numa das cenas mais emblemáticas de Star Wars: Episódio VII - O despertar da Força, os protagonistas da nova geração têm uma conversa decisiva com um herói das antigas. Rey e Finn (Daisy Ridley e John Boyega) cresceram ouvindo histórias sobre o passado. Agora querem saber o que aconteceu com Luke Skywalker nos trinta anos que correram desde os eventos do Episódio VI - O retorno de Jedi.

Nós, os fãs, também queremos.

Han Solo e Logan, envelhecidos e eternizados na pele de Harrison Ford e Hugh Jackman Foto: Estadão

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"Existem muitos rumores, histórias", o velho Han Solo diz para os olhos maravilhados dos jovens. "Eu achava que era tudo baboseira, esse papo de poder mágico que une todo o universo, o bem e o mal, o lado negro e a luz. Mas não. A Força. Os Jedi. É tudo verdade".

Nós, os fãs, sabemos que é. Assistimos a todos os filmes da franquia. Mal podíamos esperar para ver nossos heróis de novo em ação. Também estamos maravilhados.

O filme Logan tem uma cena parecida (não é spoiler porque está no segundo trailer). Debaixo de barba cerrada, cabelos brancos, muitas cicatrizes e muito cansaço, Logan mostra ao Professor Xavier (Patrick Stewart) a revista em quadrinhos que a pequena mutante Laura (Dafne Keen) traz na mochila.

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Dentro do filme, Logan se vê desenhado como Wolverine numa revista dos X-Men Foto: Estadão

"Olha só, ela é fã dos X-Men", Logan diz com sarcasmo. "Isso aqui não é nem ¼ da verdade. Não foi assim que aconteceu", ele continua, apontando para os heróis de collants coloridos que trocam socos nas páginas da HQ. "No mundo real, as pessoas morrem".

Nós, fãs, bem sabemos. Carry Fisher faleceu no final de 2016, quatro décadas depois da primeira vez em que ela e Harrison Ford deram vida a Princesa Leia e Han Solo. Hugh Jackman interpretou Wolverine por 17 anos. O tempo passa dentro e fora das telas. Os atores envelhecem e os personagens acabam envelhecendo junto. Mais cedo ou mais tarde, têm que sair de cena.

Carry Fisher, a eterna princesa Leia Foto: Estadão

Mas, para a felicidade dos fãs e o bem da indústria do entretenimento, as histórias não podem parar. Então, O despertar da Força e Logan deram um jeito interessante de expandir e perpetuar os universos ficcionais de Star Wars e X-Men, mesmo na ausência de seus personagens e atores mais queridos: transformaram os heróis do passado em ídolos e mentores das novas gerações, dentro dos próprios filmes.

Quando Han Solo diz "é tudo verdade", está provando para Rey e Finn que as histórias que eles ouviram quando crianças não eram meras fábulas, que Luke, Yoda e Vader não foram simplesmente mitos dos tempos áureos da rebelião contra o Império. Quando Logan diz "não foi bem assim", está mostrando para Laura que existiram mutantes de verdade por trás das fantasiosas revistinhas do X-Men, que por baixo do uniforme amarelão do Wolverine tem um Logan de carne e adamantium.

A autorreferência é uma prática comum da cultura pop, e o sucesso de histórias como Stranger Things e do filme Deadpool só prova sua vitalidade. Mas a sacada autorreferencial de O despertar da Força e Logan tem dois efeitos ainda mais poderosos: dentro dos filmes, os novos protagonistas conhecem os heróis míticos de sua infância, aprendem com eles e assumem suas missões, seus ideais. Fora dos filmes, nós, os fãs, temos mais um motivo para nos identificar com os protagonistas da nova geração, responsáveis por prolongar a franquia -- afinal, eles também cresceram ouvindo histórias sobre os mesmos heróis que povoam nosso imaginário.

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É difícil saber se Hugh Jackman vai voltar, se Logan vai voltar. De todo jeito, foi bonito ver o ator se despedir do personagem num filme que fala justamente sobre envelhecimento e renovação. Há 17 anos, a franquia X-Men fez renascer os filmes de super-herói. Agora Logan mostra que há novos caminhos para um gênero que já parecia se repetir demais no universo Marvel, se perder demais no universo DC. Nós, os fãs, estaremos aqui, vendo o envelhecimento e o renascimento dos heróis, maravilhados.

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