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Pesquisa mostra como redes sociais ajudam a popularizar a literatura

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(Clarice em 1961. Foto: Claudia Andujar/Divulgação)

Maria Fernanda RodriguesEnviada especial - Paraty

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Clarice Lispector (1920-1977) mobiliza 743 mil pessoas no Facebook. Caio Fernando Abreu (1948-1996), 373 mil. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), 108 mil. Machado de Assis (1839-1908) tem 38 mil seguidores e Paulo Leminski (1944-1989), 32 mil. Eles são alguns dos autores citados por Fabio Malini, coordenador do Laboratório de Pesquisas sobre Imagem e Cibercultura, da Universidade Federal do Espírito Santo, na pesquisa Literatura, Twitter e Facebook: A Economia dos Likes e dos Rts dos Usuários de Literatura Brasileira nas Redes Sociais. Parte de seu conteúdo foi apresentada em encontro do Itaú Cultural, realizado nesta terça-feira, em Paraty, antes da abertura da Flip, e está disponível na versão digital da revista Observatório, lançada agora.

"A pesquisa tenta mapear como os usuários interagem e o que eles valorizam numa fanpage. Uma das constatações é a de que não falamos mais de uma ideia de fã, mas da ideia do amigo, do parceiro, aquele que atua na mobilização de determinado tipo de trabalho", disse o pesquisador ao Estado. E completou: "Para os autores mortos, eles têm um papel de reavivar um certo tipo de leitura que até então não se tinha."

Para o estudo, Malini coletou mais de 300 mil tweets com as palavras literatura e livro e analisou as páginas (com os posts e os comentários) de cinco escritores no Facebook - os já citados Clarice, Caio, Machado e Leminski e, separadamente, a musa teen Thalita Rebouças (1974), que tem 320 mil seguidores no Facebook e está fazendo direitinho a lição de conversar com suas leitoras amigas. Seu primeiro post, de abril de 2012, teve quatro comentários; em janeiro, ela obteve mais de 3 mil comentários numa publicação.

Segundo a pesquisa, os posts que repercutem mais são os que mobilizam os fãs em alguma causa e os que fazem propaganda de eventos, novos livros, etc. "Ela constrói cotidianamente uma espécie de Selfie narrativa - ela em primeiro plano e seu público amontoado em segundo plano", comenta o Malini.

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Outra constatação: o público feminino é o mais engajado e representa, por exemplo, 91% dos que "curtem" Clarice. A pesquisa identificou, ainda, que o volume de likes está associado a três estratégias. A primeira é usar citações que inspiram o estado de espírito do fã. A segunda estratégia é compartilhar imagens virais criadas pelos próprios fãs, com uma frase do autor. E a última, gerar envolvimento dos usuários em campanhas sociais e políticas a partir da imagem do escritor.

Segundo a pesquisa, a palavra livro é utilizada cotidianamente nas redes sociais - algumas vezes para demostrar tédio como em "tenho que ler um livro, ai, que preguiça", mas também para recomendar obras e autores para os amigos. Por dois meses, tudo o que foi publicado com as palavras literatura, livro e escritor foi mapeado. Leminski, Clarice e Caio Fernando Abreu tiveram, cada um, nesse período, cerca de 70 mil tweets. Machado foi menos popular, e ainda assim apareceu em 35 mil publicações. A conclusão: "a rede se tornou um manancial de novos críticos, novos mediadores da literatura, por onde as obras da nova geração e dos autores 'mortos' ganham vida e sobrevida", escreve o pesquisador.

Os autores mais citados em junho nas redes sociais foram Clarice Lispector (59 mil tweets) e Leminski (8.110). Para Malin, a apropriação literária dos dois difere radicalmente. Enquanto Clarice se transformou em "meme" de perfis satíricos e frasistas, Leminski circula entre uma rede mais literária. A pesquisa também concluiu que leitores de Machado e Leminski acabam ficando na página de seus autores preferidos. Já o público de Clarice e de Caio vão da página de um para o outro com muita naturalidade.

Vale comentar que a pesquisa foi feita no contexto das manifestações de junho de 2013 no Brasil, e uma das tags usadas durante os protestos foi #TodaRevoluçãoComeçaComUmaFaísca que, cita a pesquisa, saiu do best-seller Jogos Vorazes.

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