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Ian Ramil preenche os vazios da vida contemporânea com a explosão em 'Derivacivilização'

Disco, o segundo do músico gaúcho, será apresentado pela primeira vez em São Paulo nesta quinta-feira, 8, no Itaú Cultural 

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Por Pedro Antunes
Atualização:

Entre a algazarra verborrágica de Coquetel Molotov, faixa escolhida para abrir Derivacivilização, segundo disco de Ian Ramil, pesca-se a frase: "quero preencher o meu vazio".

O vazio.

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Dele. Dela. Dos outros. De quem quer que seja.

O nosso vazio.

A frase, escondida em ruídos, guitarra altíssima, bateria pesada e baixo capaz de fazer o peito saltar, diz mais do que tudo aquilo que se apresentou antes ou depois. Coquetel Molotov é tão explosiva quanto o seu título sugere. Uma garrafa de vidro com líquido inflamável até a boca, um pano enfiado às pressas ali, um isqueiro aceso, o estrago.

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Mas é no caos, em frases como "o mundo é um skinhead eu sou um gay" e "o teu papinho é de fuder", Ramil despe-se. Desnuda a sociedade na qual ele, eu e você estamos inseridos.

"Só quero preencher o meu vazio."

Coquetel Molotov foi criada como se percebe ao ouvi-la. Numa sentada só. "Eu tinha só o primeiro verso e a melodia", explica o músico gaúcho de 31 anos completados neste sábado, 3. Ele se refere ao trecho mais literário da faixa - "eu to sentado em casa vendo qualquer merda na tv, há muito não entendo nada e sempre tenho o que dizer". "Passei meses só cantarolando esse verso e essa melodia."

"Um dia, sei lá", ele continua: "Estava deitado. Sentei. E escrevi todo o resto. Desde então, eu mexi em quase nada. Normalmente troca-se uma frase ou algo assim. Nesta música, não."

Ramil diz que curiosamente tem dificuldade de entender objetivamente do que a canção trata. Neste jorro de palavras, ele trata de questões tão contemporâneas quanto o vazio que, muitas vezes, tentamos esconder que existe.

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"Esse começo da música é mais literal fala desse cara, sentado em casa, que sempre quer dizer alguma coisa, mesmo quando não está entendendo nada. E vai sempre ter uma opinião. É a vida na internet, não é? Todos saem dizendo qualquer coisa publicamente, largando atrocidades na web, mexendo na comunicação geral de um grupo no qual ele está inserido sem a menor consequência", opina Ramil.

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O álbum tem as participações de Filipe Catto em Derivacivilização, Gutcha Ramil em Artigo 5o e Alexandre Kumpinski A Voz Da Indústria.

Derivacivilização nasce da questão: "Para onde deriva a civilização?" E, nessa busca pelo rumo, Ramil voltou à casa onde viveu dos 5 aos 17 anos de idade, em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Naquela construção datada de 1920, "estreita e longa", como ele mesmo explica, passou 15 dias com a banda que o acompanha.

"Tínhamos esse tempo para sentir as músicas e construir os arranjos dela", explica Ramil. "Queria que existisse esse lance de um quase jazz nesse aspecto, que é o improviso, do contato espontâneo com a canção."

As reverberações que se ouve no som de Derivacivilização são das madeiras que decoram a casa onde atualmente os pais de Ramil moram - eles estavam viajando durante as gravações, é bom deixar isso claro. "Estávamos inspirados por um documentário que assistimos sobre o disco Blood Sugar Sex Magik (disco do Red Hot Chili Peppers de 1991), que também foi gravado em uma casa", ele conta. "Passar 15 dias dentro da casa onde vivi por 12 anos tem uma carga afetiva muito grande. Isso foi fundamental para o clima do disco também."

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Tudo volta a Coquetel Molotov. Para preencher o vazio, mesmo diante de tudo, o melhor é voltar para dentro de si. E, no caso do ótimo Derivacivilização, a viagem para dentro de Ramil passa pelo endereço próximo ao estádio do clube de futebol Esporte Clube Pelotas.

Ramil apresenta Derivacivilização em São Paulo nesta quinta-feira, 7, às 20h, no Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, Bela Vista).

Ouça Derivacivilização (para download, acesse o site do artista):

https://www.youtube.com/playlist?list=PL2twInnhVa2yfN9Zzj7Mcq5_pO14cL9GW

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