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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Os 70 anos de um mestre: Hector Babenco

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Babenco nas filmagens de "Meu Amigo Hindu": o drama de tintas biográficas  chega dia 3 de março às telas nacionais Foto: Estadão

Domingo que passou, Hector Babenco soprou sua 70ª velinha de aniversário, cujas chamas arderam em celebração não apenas de seu cumpleaños, mas de um dos projetos estéticos mais radicais do nosso cinema quando se trata de entender a solidão dos excluídos, as marginalizações possíveis e prováveis, as estratégias de autorregenaração dos errantes. Para aplaudir o cineasta e marcar a data com loas, o Canal Brasil inicia nesta terça (9/2), à 0h15m, uma retrospectiva em tributo ao diretor, adotando como abre-alas o blockbuster Carandiru, visto por 4,7 milhões de pagantes em 2003, mesmo ano em que concorreu à Palma de Ouro em Cannes. Na esteira, a emissora apresenta Coração Iluminado (16/2), Brincando nos Campos do Senhor (23/2), O Beijo da Mulher Aranha (1º de março), Pixote, a Lei do Mais Fraco (8/3); a obra-prima da ação Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (15/3) e O Rei da Noite (22/3). A seleção dá um tônus a mais na maratona em que Babenco se encontra hoje, para lançar seu novo filme, O Amigo Hindu, no dia 3 de março.

"Carandiru": nesta terça no Canal Brasil Foto: Estadão

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Mestiço de duas nações, sendo argentino com berço em Mar del Plata e brasileiro naturalizado paulistano nos anos 1970, Hector Eduardo Babenco foi de um tudo nesta vida, indo de figurante em spaghettis à italiana a diretor indicado ao Oscar. Marcou gols em muitas áreas do verbo viver, driblando adversários dos mais belicosos, da censura fardada dos anos 1970 ao linfoma com quem guerreou armado de oncologia e muita coragem. Foi e é realizador dos grandes, pedaço indelével da História da América Latina em sua marcha para o Oeste e para o Leste do imaginário cinéfilo. Parte de suas peripécias pessoais serve de alimento a O Amigo Hindu, que tem Willem Dafoe como seu protagonista e um Selton Mello em estado de Graça como um ser muito indesejado por todas as gentes, sobre o qual não se pode revelar nada. Dafoe revive - numa releitura de licenças poéticas - os anos em que Babenco viveu uma guerra hospitalar.

Willem Dafoe e Bárbara Paz nos sets do novo longa do cineasta, que acaba de completar 70 anos de coragem Foto: Estadão

Filmes sobre calvários de saúde já fizeram a roda do cinema andar algumas vezes. Foi o que se viu quando, em 2005, o romeno Cristi Piu lançou o nigérrimo A Morte do Sr. Lazarescu, seguindo um idoso em deterioração. Há uma patologia igualmente incômoda no francês Abus de Faiblesse, de Catherine Breillat, no qual a diretora espelha no corpo da ruiva Isabelle Huppert o derrame que sofreu. O que se deteriora em Meu Amigo Hindu é o organismo de Diego Fairman, cineasta vivido por Dafoe (numa atuação visceral), em função de um linfoma. A doença foi a mesma que botou Babenco em estado de risco nos anos 1990: logo no início do longa, uma cartela de texto indica que as experiências ali narradas foram testadas na pele do próprio Babenco. Fala-se, por isso, que Diego é seu alter ego. Mas é tolice reduzir o filme a esse âmbito autobiográfico. Não importa o que se deu na vida de Babenco. Importa sim o que esse novo espelha de sua obra, de sua cinematografia. De solidez invejável como drama, o longa caminha a partir de sequências entre o tormento e a bonança: algumas que doem, outras que aliviam. É ver pra crer... e ter prazer.

Parabéns, mestre!

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