Numa noite de fortes emoções para o cinema, apesar de toda a truculência do mestre de cerimônias, o humorista (?) Ricky Gervais, a festa do Globo de Ouro 2016 disparou como um foguete no imaginário cinéfilo, à força de resultados inusitados, surpresas e consagrações. A decepção para os brasileiros foi o fato de Wagner Moura não ter sido laureado por Narcos, mas, pelo menos, ele estava lá representando - e muito bem - a América Latina. A alegria maior foi de Alejandro González Iñarritu ao ver o épico O Regresso (The Revenant), que só chega aqui em fevereiro, a conquistar os troféus de melhor filme (drama), diretor e ator, para Leonardo DiCaprio, aclamado de pé por seus colegas. Espécie de Dança com Lobos dark, ambientado em 1820, o longa-metragem recria, em tons de faroeste, a vingança de um caçador de peles atacado por um urso. A produção, orçada em cerca de US$ 130 milhões, faturou cerca de US$ 38 milhões nas bilheterias dos EUA neste fim de semana, aumentando o cacife de Iñarritu, que venceu o Oscar em 2015 por Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância).
Igualmente feliz ficou a equipe de Perdido em Marte, fenômeno de bilheteria de Ridley Scott que, na categoria comédia/ musical, foi eleito melhor filme de sua seara. Seu protagonista, Matt Damon, ganhou o Globo dourado de melhor ator pelo bom humor e carisma que injeta ao périplo de um astronauta esquecido em solo marciano. O resultado serviu como uma espécie de campanha em prol de prestígio autoral para Scott. Falando-se de prestigiar: Aaron Sorkin ganhou ainda mais respeito como screenwriter ao ser contemplado com a estatueta de melhor roteiro por Steve Jobs. Foi ele o roteirista de A Rede Social. O drama biográfico de Danny Boyle ainda ajudou Kate Winslet a ser eleita melhor atriz coadjuvante.
Nenhum momento foi mais memorável do que a premiação de Sylvester Stallone por seu desempenho (pela sétima vez) como o pugilista Rocky Balboa em Creed - Nascido para Lutar, de Ryan Coogler, que estreia aqui nesta quinta. O personagem surgiu há exatamente 40 anos, em Rocky, o Lutador, ganhador do Oscar de melhor filme em 1977. Aplaudido de pé, o astro recebeu os aplausos lembrando: "Eu gostaria de agradecer o meu amigo imaginário Rocky Balboa por ter sido meu melhor amigo ao longo de tantos anos". Sua vitória foi a coroação uma mitologia hollywoodiana que diz respeito à matéria-prima mais sólida da ficção: o heroísmo.
Dois outros momentos inesquecíveis: a) Jason Statham dando uma gravata num colega ao anunciar um dos concorrentes do Globo de melhor comédia: A Espiã Que Sabia de Menos; b) O discurso de Jim Carrey tirando sarro de si mesmo por ser o dono de dois Globos, conquistados por Show de Truman (1998) e O Mundo de Andy (1999).
Um acerto digno de nota foi a láurea de melhor atriz de drama dado para Brie Larson, uma californiana nascida em 1989 que vem conquistando elogio após elogio por O Quarto de Jack. É uma promessa para o amanhã, com sua segurança inabalável na construção do melodrama.
No celeiro da televisão, foi bonito ver Christian Slater, um ídolo teen da década de 1990, tempos de Kuffs: Um Tira por Acaso (1992) e Broken Arrow: A Última Ameaça (1996), renascer ao ser premiado por Mr. Robot, eleita a melhor série de drama. Sensata também foi a estatueta de melhor ator de minissérie ou telefilme para o astro da vez: Oscar Isaac, por Show me a Hero.
O melhor de tudo: Spotlight: Segredos Revelados, um engodo em forma de aula de Moral e Cívica, não ganhou nadinha. Deus existe... pelo menos no cinema.
Neste quinta, saem as indicações ao Oscar, às 11h30m. E O Regresso deve estar lá...
And the Golden Globes went to...
Filme (Drama):
Filme (Comédia/ Musical): Pedido em Marte, de Ridley Scott
Diretor: Alejandro González Iñárritu (O Regresso)
Atriz (Drama): Brie Larson (O Quarto de Jack)
Ator (Drama): Leonardo DiCaprio (O Regresso)
Atriz (Comédia/ Musical): Jennifer Lawrence (Joy - O Nome do Sucesso)
Ator (Comédia/ Musical): Matt Damon (Perdido em Marte)
Atriz Coadjuvante: Kate Winslett (Steve Jobs)
Ator Coadjuvante: Sylvester Stallone (Creed - Nascido para Lutar)
Roteiro: Aaron Sorkin (Steve Jobs)
Trilha sonora: Ennio Morricone (Os Oito Odiados)
Canção: Writings on the Wall (007 - Spectre)
Longa de animação: Divertida Mente
Filme Estrangeiro: O Filho de Saul