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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'O Mestre dos Gênios' põe um elenco radiante numa ode à literatura

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Jude Law e um soberbo Colin Firth alimentam o drama "O Mestre dos Gênios": produção editorial e loucura  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA

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Pipoca adulta, daquelas que dissolvem na boca com fluidez, mas deixam um gostinho amargo de realidade no canto da língua, O Mestre dos Gênios (Genius) se alinha com um formato industrial anglo-americano definido como "filme médio", por trazer um orçamento mais afinado ao padrão indie (seu custo de produção e acabamento ficou em US$ 17 milhões), aplicado a um formato narrativo clássico, de direção de arte classe AA e elenco padrão Oscar. Cabe na mesma prateleira onde os ingleses puseram O Discurso do Rei (2010) ou Desejo e Reparação (2007). Mas como seu realizador, Michael Grandage - um estreante atrás das câmeras, aos 54 anos -, é um dos nomes de maior refinamento e prestígio na direção de teatro em solo britânico, o filme carrega alguma coisa de inusitado em sua composição. Parte-se, a princípio, de uma seleção de fatos reais dos anos 1920, relidos à luz da licença poética e da excentricidade, para se chegar à construção de uma cinebiografia de tons épicos sobre o mercado editorial dos EUA. Mas, na trajetória, essa espinha dorsal bem definida, para cumprir a exigência típica de um cinema de fleuma, vira outra coisa: um ensaio avassalador sobre amizade em forma de uma ode à Literatura.

Vitaminado pela presença de medalhões como Nicole Kidman, (a divindade) Laura Linney, Jude Law e um Colin Firth em estado de graça, O Mestre dos Gênios fez seu nome mundo afora ao ser escalado para disputar o Urso de Ouro no Festival de Berlim, em fevereiro, como forma de dar publicidade ao trâmite de Grandage do palco às telas (onde só era conhecido como ator bissexto), como cineasta. E foi uma surpresa para a Berlinale perceber a linha temática que o diretor adotou, optando por seguir trilhas heróicas. Filmada na Inglaterra, com locações em Manchester e Liverpool, esta produção aposta num tipo mais elegante de herói: um herói literário, interpretado por Firth com base nos feitos folclóricos do editor de livros Max Perkins (1884-1947).

Num cenário de arrogância intelectual no mercado editorial dos EUA, no qual as Letras eram um espelho das angústias financeiras dos americanos, Perkins foi o responsável por publicar mitos da prosa como Ernest Hemingway (de Adeus às Armas) e F. Scott Fitzgerald (de O Grande Gatsby), interpretados no filme por Dominic West e Guy Pearce respectivamente. Seu maior dilema foi o escritor Thomas Wolfe (1900-1938), autor de O Menino Perdido, que encarnado por Law como uma besta raivosa.

Escrito pelo aclamado dramaturgo John Logan, roteirista dos dois últimos episódios da franquia 007 (Operação Skyfall e Spectre) e do oscarizado Gladiador (2000), o longa se concentra no processo de construção de parceria profissional e de amizade entre Perkins e Wolfe, cuja excentricidade pode embotar a fluidez de sua prosa. Temos diante de nós discussões sobre a arte da palavra, mas também embates sobre como se molda a cumplicidade de homens que passam da hostilidade à admiração. E tudo se isso se dá a partir de uma abordagem visual de planos longos, lentos, de um colorido saturado, como forma de traduzir uma era de excessos. Bela estreia para Grandage.

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Cotação: Ótimo

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