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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

O lado selvagem da juventude num misto de riso, sensualidade, thriller e pranto

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

Numa longa noite de loucuras, agito, azaração e lavação de roupa, três jovens vão conduzi o olhar do cinema brasileiro para os desgovernos existenciais inerentes ao verbo "amadurecer" no filme #garotas, em cartaz a partir desta quinta (dia 12), nos cinemas. A direção - segura nos enquadramentos e ousada no enfrentamento do naturalismo - é assinada pelo catarinense Alex Medeiros, ex-staff da Disney, atual diretor artístico da Rede Globo, com foco em websséries. É sua estreia em longas, mas ele vem com fome de devorar as convenções no retrato da juventude. Produzido pela Accorde Filmes, a mesma de títulos premiados como Em Teu Nome (2009) e A Oeste do Fim do Mundo (2013), #garotas - O Filme abre seu dique de adrenalina com o reencontro das universitárias Milena (Barbara França) e Carina (Jeyce Valente) com Beth (Giovana Echeverria, numa atuação envolvente, com bom domínio do drama). Beth é a amiga do peito de ambas e foi viver em Nova York por um tempo. No regresso, a moça resolveu deixar lá nos States sua estrada de histerias noite adentro. Mas Beth retornou numa véspera do Ano Novo, época na qual os hormônios de suas companheiras de balada estão na fervura máxima. Incapazes de lidar com a fase de caretice da colega, Milena e Carina vão levar o agito até ela, levando uma multidão à sua casa. Mas a celebração detona um processo de dor e mesmo de perigo, retratado por Medeiros com riso e choro. O cineasta também pilota a série para o GShow Deborah Secco Apresenta. Na entrevista a seguir, ele explica seu pacote de criações.

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 Como foi o desafio de construir um olhar sobre a geração dos 20 anos dos anos 2000?

ALEX MEDEIROS - É desafiador retratar a contemporaneidade, porque qualquer pessoa tem a mesma propriedade que você para se colocar no contexto e discordar do seu olhar. Tentei colocar temas universais e atemporais no centro da minha narrativa: amadurecimento, amizade, amor, conflito, mágoa, reconciliação. E eu quis retratar estes temas através do olhar do aqui e agora. O país e o mundo estão mudando, numa velocidade espantosa. E eu vejo uma geração possuída por um desejo irrefreável de questionar, enfrentar e mudar o mundo. É um momento especial, e não somente pela questão feminista, embora esta seja uma das causas centrais. Vejo uma batalha diária pela liberdade de expressão, contra o julgamento e o preconceito. Esta batalha começa com as escolhas individuais. Eu estou inserido neste contexto porque tenho uma filha de 18 anos. Além disso, vejo o papel do roteirista de cinema, pelo menos o de um roteirista que escreve porque tem algo a dizer, como o de um observador, até por obrigação. Como diretor, tenho que destacar também a importância do elenco neste processo. Encontrei uma protagonista, Giovana Echeverria, que mergulhou profundamente neste contexto e me disse: "Quero contar essa história. Quero representar a minha geração." Esse desejo de se expressar foi fundamental na formação do trio de atrizes que conduz o filme, com Barbara França e Jeyce Valente. Estas jovens são artistas de verdade. Tive muita sorte com elas. Como nosso processo foi muito aberto e colaborativo, posso dizer que criamos juntos este painel.

 

De que forma um filme como #garotas pode se desenhar como um thriller na tela? Que perigo existe em amadurecer?

MEDEIROS - O que eu busquei em #garotas, o tempo todo, foi criar um filme de extremos. Essa fase da vida é assim, tudo é muito intenso, as coisas mudam de uma hora para outra. Uma noite boa pode terminar mal. E vice-versa. Minhas personagens dividem os bons e os maus momentos da vida, e eu queria retratar ambos. Assim, tentei saltar para os maus momentos sempre de forma repentina. Isto se reflete na emoção causada pelas situações, mas também na condução estética. Falando de "ferramentas" mais específicas, eu utilizei recursos sensoriais, como mudanças no ritmo dos cortes, a fotografia, a música, o desenho de som sempre muito focado na representação dos ambientes. A boate do filme se chama "Hades", e não é à toa... Para criar este ambiente de perigo, trabalhei com referencias que vão desde Dario Argento ao Expressionismo Alemão. Voltando ao amadurecimento, para responder a segunda parte da pergunta, o que tenho a dizer, já com o distanciamento que a passagem dos anos me proporcionou, é o seguinte: o maior perigo é você não saber o peso que cada escolha pode ter na sua vida, no seu futuro, não importa quão pequena essa escolha possa parecer em um dado momento.

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 Foto: Estadão

Como foi falar da conversão do corpo feminino para o universo da maternidade no seriado com Deborah Secco?

MEDEIROS - Em primeiro lugar, destaco a incrível coincidência do lançamento destes dois projetos no mesmo dia. Parecem dois extremos: a mídia audiovisual original, o cinema, e a mídia nova, a internet; uma ficção e um documentário; uma estrela consagrada e três atrizes em início de carreira; um produto totalmente independente e outro realizado dentro da maior empresa de audiovisual do país. Claro que são experiências completamente diferentes, mas, para mim, são complementares. Os dois projetos são marcados por uma mesma preocupação com o futuro. A Deborah, além de grande atriz, é uma artista completa. Ela está sempre em busca de novos caminhos. Não se contenta com sucesso, ela quer verdade. Foi um privilégio trabalhar com ela. Comecei a discutir este projeto há mais de um ano, com ela e o André Moraes, diretor e compositor. Formamos um time muito bacana. Mas o projeto é todo dela, é ela quem está se expondo, se expressando, se comunicando. O mote do programa é: "Estou colocando uma pessoa no mundo e chamei doze pessoas que admiro para me ajudar a entender que mundo é esse." Passa longe de um talk show convencional. O André e eu buscamos uma linguagem mais cinematográfica para registrar este momento em que a Deborah abriu sua casa e lá conversou com os convidados. A profundidade com que ela quis abordar os temas, todos bem ambiciosos (como "Infância", "Pais e Filhos", "Amor" e "Futuro"), foi contagiante para a equipe toda e acreditamos que realizamos um trabalho bem pouco convencional.

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