RODRIGO FONSECA
Avesso ao cientificismo e mesmo ao exotismo impostos a qualquer representação da selva amazônica nas telas, o diretor colombiano Ciro Guerra celebrou a conquista de sete prêmios por seu O Abraço da Serpente, na cerimônia do Troféu Platino, na noite de domingo, em Punta Del Este, no Uruguai, como uma vitória da ficção. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e agraciado com quase 30 láureas pelo mundo afora, a começar pelo prêmio da Confédération Internationale des Cinémas d'Art et D'Essai, dado na Quinzena dos Realizadores, do Festival de Cannes, o longa-metragem deixa as fronteiras uruguaias coroado por um evento concebido para promover um congraçamento entre as potências audiovisuais da América Latina. Sua trama narra um périplo de descobertas e trocas multiculturais vivido pelo xamã indígena Karamakate ao longo de 40 anos de relação com dois cientistas brancos. Com esse enredo, Ciro reescreveu a história contemporânea da indústria cinematográfica da Colômbia, abrindo as portas estéticas da floresta para o mundo.
"Este filme estimula uma troca com a plateia pelas chaves da imaginação", disse Guerra, em Punta Del Este. "Tínhamos uma explosão de cores à nossa volta, por conta da diversidade da fauna e da flora da floresta. Mas não poderíamos nos render à mimese do real. A questão central da fotografia era utilizar o preto e branco de forma a libertar a imaginação do espectador e fazer com que ele seja capaz de preencher a ausência de cor nas imagens à sua frente do jeito que sua invenção permitir. É a plateia quem deve colorir o filme, a partir de sua própria experiência sensível".