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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Magal e os Formigas' é 'a' pedida dos filmes na TV

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Norival Rizzo encontra em Sidney Magal um Grilo Falante na comédia social de Newton Cannito  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECAAnota na agenda de filmes obrigatórios na programação da TV desta semana: Magal e os Formigas, nesta terça, 22h, no Canal Brasil. É um sopro de leveza na grade do cabo.

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Dos anos 1970 até hoje, eternizado por sua pomabjírica Sandra Rosa Madalena, o cantor Sidney Magal já foi ator várias vezes, tendo sido um Zorro trans na novela Bang Bang (2005), um coadjuvante de luxo (mau) em O Caminho das Nuvens (2003) e até um dublê de Rudolph Valentino em Amante Latino (1979). Faltava a ele - à luz da maturidade e dos fios grisalhos - assumir o papel de mentor, de oráculo, de Sr. Miyagi de um Daniel San já cansado de guerra. Mas essa tarefa chegou para ele embrulhada em tintas surreais e levemente marxistas numa comédia que se destaca na atual cena nacional do gênero pela originalidade do tema e por uma fina (e irônica) análise do calvário nosso de cada dia: Magal e os Formigas, uma fábula com aroma de Frank Capra, à la A Felicidade Não se Compra (1946). Em seu primeiro exercício no posto de realizador, o roteirista paulista Newton Cannito - apoiado na experiência e rigor narrativo raras vezes reconhecidos de Michael Ruman, da série 9MM São Paulo - nos surpreende pela habilidade de fundir crônica de costumes, fábulação e reflexão social sem embolar os vértices deste triângulo cômico sobre aposentadoria e acomodação.

Ver Magal como um Grilo Falante que ensina um aposentado viciado em loteria a não desistir do amor, do prazer e de suas próprias virtudes é algo tão inusitado que enche o filme de estranheza. Mas uma estranheza convidativa, engraçada, carismática e até sensual como é o perfil do intérprete de O Meu Sangue Ferve Por Você. Mas o acerto maior do filme é a escalação de Norival Rizzo, um mito do teatro paulistano, como protagonista. Com um ferramental interpretativo dos mais fartos, ele dá um ar de James Stewart à figura fustigada de João, um ex-músico, hoje aposentado, que gasta suas tardes numa fabriqueta de fundo de quintal, sem dar bola pra mulher. Canções de Magal despertam sua fúria, por recalquer, até que o latin lover se materializa diante dele, como uma entidade, disposto a fazer com que ele espane a preguiça e o marasmo de seu cotidiano.

Elementos místicos não diluem a agudez sociológica do filme em sua investigação sobre a vida suburbana de São Paulo e sobre o desemprego. E nesse quesito de crônica social que o elemento Capra fala mais forte, com algo do Ettore Scola de Feios, Sujos e Malvados (1976). Tem muita reflexão ali, mas bem dosada com o humor e a fantasia. Não é um "filme-bula-de-remédio", e sim um exercício de despretensão, que se liga a uma linhagem popular brasileira que passa por Tangarela, a Tanga de Cristal (1976), com Jô Soares, e Por Incrível Que Pareça (1986), com Tim Rescala.

 

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