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'Julieta', o mais injustiçado 'almodrama', chega à TV

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
A beldade Adriana Ugarte é a jovem Julieta  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA

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Caberá a Pedro Almodóvar a tarefa de decidir (ao lado de um time de artistas) que filme receberá a Palma de Ouro no 70º Festival de Cannes (17 a 28 de maio), após a sessão do longa-metragem de abertura, Les Fantômes D'Ismaël, do francês Arnaud Desplechin. Há um ano ele passou pela Croisette concorrendo, com seu filme mais injustiçado dos últimos dez anos: Julieta, um exemplar do que de melhor existe no chamado "almodrama". Quem cunhou o termo foi o baiano Caetano Veloso, ao se referir à estética do cineasta espanhol, de volta na melhor das formas nesse filme, que estreia na TV neste feriadão, no sábado, 22h, no Telecine. E, de cara, a produção estabelece a madrilenha Adriana Ugarte como beldade (com talento) nível Penélope Cruz. Não se trata de "mais um Almodóvar" e sim de um grande filme sobre o viver, nas desinências mais cotidianas do verbo.

O cineasta e suas estrelas  Foto: Estadão

É um exemplar a mais do que se chama de metamelodrama. O verbete é parte das pesquisas de dramaturgia feita pelo professor José Carvalho (considerado o mais prestigiado teórico sobre roteiro no Brasil, que leciona como escrever para cinema e TV no Rio e em São Paulo na Oficina Roteiraria [http://www.roteiraria.com.br/]). Com base nas reflexões antropológicas do americano David Bordwell e nos ensaios geopolíticos do português João Maria Mendes, Carvalho consolidou essa expressão a partir da ideia de que o realizador de Má Educação (2004) cria seu universo com base no tecido visual "vivo" derivado do melodrama clássico e de suas releituras modernas, de Douglas Sirk a Rainer W. Fassbinder. De fato, o cálido Julieta tira sua percepção da condição feminina de "lições" que o cinema dos passados nos deu, potencializadas aqui por um diálogo com a literatura de Alice Munro.

Sem humor algum e sem bizarrices na linha do realismo fantástico ou do filão sci-fi vistas nos últimos trabalhos do diretor número 1 da Espanha, como Volver (2006) ou A Pele que Habito (2011), Julieta é apenas um painel dos acontecimentos da vida de uma professora universitária, ao longo de duas décadas e meia. Numa atuação esplendorosa, Adriana Ugarte interpreta a jovem Julieta e Emma Suárez (também brilhante) assume a protagonista em sua idade adulta. No início, temos um clima de suspense, que logo se converte em um registro melodramático sobre a relação caudalosa de Julieta com Xoan, pescador vivido por Daniel Grao, que mexe com a libido da jovem.

 

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